quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
domingo, 26 de dezembro de 2021
sábado, 18 de dezembro de 2021
ESPANTALHO
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
o livro
terça-feira, 26 de outubro de 2021
O Atraso
domingo, 17 de outubro de 2021
domingo, 3 de outubro de 2021
sábado, 2 de outubro de 2021
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
Não Era Um #Unicórnio
sexta-feira, 27 de agosto de 2021
A Marina
terça-feira, 17 de agosto de 2021
Avançar
Terapia Para os Males do Mundo
sábado, 7 de agosto de 2021
Cidalinha
quinta-feira, 5 de agosto de 2021
sexta-feira, 30 de julho de 2021
domingo, 25 de julho de 2021
Sem #Filtros
domingo, 11 de julho de 2021
Toque
Violeta Inacabada
terça-feira, 6 de julho de 2021
dnrht
terça-feira, 8 de junho de 2021
sábado, 5 de junho de 2021
quarta-feira, 2 de junho de 2021
quinta-feira, 27 de maio de 2021
Indzível
A Cabana
segunda-feira, 24 de maio de 2021
segunda-feira, 17 de maio de 2021
Satie
quinta-feira, 13 de maio de 2021
nrdjrj
terça-feira, 11 de maio de 2021
sábado, 8 de maio de 2021
O Jasmim
sexta-feira, 7 de maio de 2021
terça-feira, 4 de maio de 2021
terça-feira, 27 de abril de 2021
sexta-feira, 23 de abril de 2021
bailarinas, versão 2
sábado, 17 de abril de 2021
segunda-feira, 12 de abril de 2021
#Intriga
quinta-feira, 8 de abril de 2021
o #Halo dos gatos
quarta-feira, 7 de abril de 2021
terça-feira, 30 de março de 2021
#Xian
domingo, 28 de março de 2021
quinta-feira, 25 de março de 2021
terça-feira, 23 de março de 2021
Rossio
quinta-feira, 18 de março de 2021
cnffjfj
quinta-feira, 4 de março de 2021
Em Casa de Adriana
A casita amarela em frente à sua, e de fachada idêntica porque por ali eram idênticas todas as casas, estava pintada de fresco. Tão fresca ainda estava a tinta, que o gato, ao cheirá-la, tinha encostado o nariz à parede e aparecera depois à porta da cozinha com os bigodes pintados daquela cor.
O animal, de personalidade vaidosa e suscetível, ficara um pouco aborrecido com o seu ar de troça, muito bem a conhecia para ser possível perceber-lhe os trejeitos, mas, fingindo uma indiferença total, percorreu metro e meio, mais coisa, menos coisa, dos motivos geométricos e carcomidos dos mosaicos, para se ir enroscar entre umas quantas almofadas desalinhadas em cima de um cadeirão de madeira velha, costas com costas com a estante verde que continha os livros de culinária, os fascículos sobre plantas ornamentais e outras minudências do quotidiano.
Assim que anoitecia, saltava para o muro do quintal e ficava sobre ele, de sentinela, até à manhã seguinte, sem nunca chegar a fechar os olhos, e, invariavelmente, quando principiava a luz do dia, espreguiçava-se e iniciava uma pequena volta de reconhecimento pelo terreno circundante. Depois voltava.
Hoje, o seu ritual de limpeza, humedecendo a pata com a língua e passando-a pelo focinho repetidas vezes até ele ficar completamente limpo e lustroso, haveria de ser mais trabalhoso.
Duas gotas de café caíram em frente aos pés de Adriana. Foi buscar a esfregona e rapidamente tratou delas, não sem tentar, uma vez mais, remover aquela maldita mancha alaranjada, mesmo ali, dez centímetros ao lado do tapete, e que teimava em permanecer indelével, isto porque já fora absorvida há muito pelos ladrilhos do chão.
Fechou a porta, que guinchou como se estivessem a exigir-lhe um trabalho muito pesado, correu as cortinas e assim manteve as coisas até o sol deixar de embater demasiado quente, daquele lado da casa.
A um canto do quintal havia um monte de trastes velhos à espera de transporte para o lixo. Um espelho veneziano entalado entre duas cadeiras obsoletas e cuja superfície espelhada se encontrava carcomida pelo tempo, um alguidar sem asas e cheio de sobras de folhas e água da chuva, sobrevoado constantemente por um sem número de mosquitos quase invisíveis, mas que se percebiam muito bem nos poentes mais luminosos sob a forma de nuvem trémula e transparente.
Uma buganvília por podar espalhava uma bonita desordem, com os seus braços lilazes em liberdade. Vivia desencontrada de si mesma, pois tanto se agarrava às coisas e lhes trepava por cima, como se deixava suspender sobre elas.
Já as luzes da rua estavam acesas quando os homens começaram a arrumar os materiais. Fizeram-no rapidamente, talvez por força da prática de todos os dias repetirem os mesmos gestos, meteram tudo na carrinha e arrancaram, primeiro em primeira, depois em segunda e depois em terceira, e lá foram roncando até ao cruzamento, até se perderem de vista e a sua sombra comprida se desvanecer totalmente.
Tinham enfiado todos os seus capacetes cor de laranja dentro de um saco violeta, ou pelo menos assim se lhe revelaram as coisas, desses tons vivos, numa tarde de sol intenso que teimava em definir estupidamente as cores, sobrevalorizando-as. Mais tarde, num dos últimos momentos em que afastara a cortina para espreitar, vira atirarem com o saco para o fundo da bagagem, mas podia ter-se equivocado, os ambientes demasiado radiantes tendiam a enganá-la fantasiando a realidade.
As horas tinham passado na sua rotina habitual.
Adriana meteu as chaves ao bolso.
O gato, por essa altura, já estava empoleirado no muro, com a vigília iniciada, como era seu hábito, e assim ficou, de olhos abertos e verdes, à sua espera, desde que a viu sair, até que regressou, enroscada no seu xaile de xadrez em tons de encarnado.
Atravessou a estrada e chegou-se ao muro para espreitar melhor.
Na casa amarela estava um gato, muito quieto, não era o seu, porque não tinha o seu pelo negro carvão, confundia-se-lhe o ar pardacento com o brilho cinzento da noite enluarada, mas o animal, que já tinha dado pela sua presença e esperava atentamente a sua aproximação, saltou com agilidade para o negrume do buraco entre os rododendros emaranhados um no outro, ou talvez se tivesse refugiado debaixo das tralhas do canto, ou lá muito para trás desses dois arbustos que resistiram a todas as modificações sem serem incomodados, só uma poeira residual se lhes acumulava nas folhas, de vez em quando, conforme o pó produzido nos trabalhos, mas qualquer chuva brilhante, mais ou menos intensa, era suficiente para os avivar.
Adriana percorreu com o olhar o que a rodeava. Apreciou, com admiração, o trabalho bem feito. Um imóvel à beira da ruína ficara com um aspecto agradável e acolhedor, deveria apostar em arranjar a sua, pintando-a, talvez de branco. Se todos os proprietários tivessem o mesmo comportamento, ficaria o bairro mais alegre e rejuvenescido.
Os homens dos capacetes coloridos haviam deixado num canto sobras da velha casa, madeiras ultrapassadas, baldes de tinta vazios, fragmentos do espelho de um velho roupeiro. Não há trabalhos perfeitos e aquele pormenor descuidado, mas facilmente solucionável, não lhes retirava competência e zelo.
Em pleno silêncio de bairro adormecido debaixo dos salpicos das estrelas, porque era sempre rápido, esse tempo que o sol levava a desaparecer totalmente no horizonte, desde que intercetava a terra até que era engolido por ela, atravessou a estrada lentamente, já só os candeeiros verticais, colocados equidistantes na rua, restavam para iluminar o lugar, eles e a claridade tímida da lua em quarto crescente.
Adriana ouvia o miar do gato desconhecido, com nitidez, sabia que haveria de estar escondido no canto da tralha, ou atrás dos arbustos húmidos, ou seguindo, com a curiosidade própria dos gatos, o veio de terra líquida que se movia a caminho do passeio, transportando sobras de areia e cimento.
Afastou a folhagem na tentativa de o encontrar, mas o animal calou-se instantaneamente, como se não quisesse ser encontrado.
Os gatos eram assim, plenos de mistério, o seu roçava-se-lhe nas pernas de cada vez que ela calçava e descalçava os sapatos, sentada no lugar dele, no cadeirão, para ir, ou para regressar, e ela contava-lhe, como lhe era possível, as suas pequenas aventuras, ou dava-lhe a sentir as batidas silenciosas do seu coração.
Adaptou os olhos à falta de visibilidade dentro do cenário escuro e, a cada passo cauteloso que ia dando, julgou sentir na pele os suaves toques da trepadeira entrelaçada do outro lado da rua, no seu jardim confiante. Sabia, pela grande maioria dos sonhos que até ali tivera, que não há que recear a escuridão.
O seu gato já não estava no muro quando regressou pela manhã e abriu a porta castanha, meticulosamente pintada de fresco e bem centrada na imagem de um dos espelhos.
Entrou. Pousou as chaves sobre a mesa e pendurou o xaile de tecido rude e cor de carvão, enquanto olhava com curiosidade o gato cinzento a dormitar tranquilamente entre a penumbra das almofadas da velha cadeira, colocada costas com costas com a estante em ébano, onde repousavam algumas revistas de culinária, desusadas teias de aranha e outras trivialidades do quotidiano.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
Luz
sábado, 13 de fevereiro de 2021
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Sem Fronteiras
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
O #Bule Azul
sábado, 30 de janeiro de 2021
e, dava-lhe a frescura
do seu corpo a beber.
sentavas-te, silencioso,
com os olhos fixos num
ponto inantígível para mim.
O gato está sentado,
quieto e silencioso,
com os olhos fixos
num ponto inatingível.
Faz-me companhia
enquanto olho para
o casaco e me lembro
de alguns episódios que
lhe estão agarrados à cor,
ou ao formato,
ou ao cheiro, não sei,
de quando me contavas
segredos e eu, por
encantos e feitiçarias
te dava a frescura do
meu corpo a beber.
Deu-lhe a frescura do
seu corpo a beber,
O gato está sentado, quieto
e silencioso, junto a mim.
Fixa os olhos num
ponto inantigível,
daqueles que só os
gatos conseguem ver.
Do outro lado da sala, há
um casaco pendurado no
cabide, com histórias que lhe
estão agarradas à cor,
ou ao formato, ou ao
cheiro, não sei.
Contavas-me as tuas
aventuras e desventuras
e eu dava-te a frescura do
meu corpo a beber.
A viver na companhia
de velhos vasos com
flores alagadas pela
chuva insistente.
Velhos vasos alagados
pela chuva insistente,
Tomavam conta da casa.
O gato nem queria saber.
Velhos vasos alagados
E a chuva insistente
Batendo à porta
Dando-lhe frescura
O gato nem queria saber. Só queria dormir sossegado e assim, quem tomava conta da casa eram velhos vasos alagados pela chuva insistente.
No momento da camélia b se aproveitar da frescura das suas gotas era quando elas caíam brancas, sobre o inverno
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
Uma #Pauta para Pássaro
À conversa com um pássaro que me veio pousar no parapeito da janela, contei-lhe os meus receios.
Acharão, decerto, estranho que tenha iniciado conversa com uma ave, já que, para além de não falarem para nos poderem responder, nem sequer são bons ouvintes, cortam-nos a palavra constantemente, para cantarolarem pequenos trechos melódicos sem interesse nenhum, muito melhor do que eles cantam alguns homens e mulheres, muito mais belas são as notas dos instrumentos musicais que o homem foi inventando ao longo dos tempos.
Ainda assim, e muito por não ter com quem falar no momento, expus-me a essa situação ridícula e embaraçosa, acaso algum vizinho passasse por ali e desse conta do insólito.
Durante alguns segundos, em que esperei de forma inconsciente que ele fizesse o que lhes é habitual, que seria partir como chegou, naqueles seus jestos nervosos e delicados, quase parece, às vezes, que nem chegam a pousar nas superfícies, tal é a rapidez e a instabilidade com que se movem, ficámos-nos a olhar mutuamente, cada um à espera da reação do outro.
Após esse período, que me pareceu muito longo, mas que provavelmente nem terá sido, somos enganados muitas vezes pelo tempo, comecei a contar-lhe, não direi a minha vida toda, porque também não sou assim tão idiota, que, sem o conhecer, lha fosse narrar ao pormenor, para ele ir fazer mexericos com os vizinhos, sob a forma de trinados e gralhadas.
Logo no momento seguinte, e porque não foi a primeira vez que me pareceu vê-lo esvoaçando no jardim da casa em frente, à procura de alguém, arrependi-me.
Como eu imaginava, pouco ouviu do que eu lhe disse, parecia uma conversa de tontos, eu falava em alhos e ele respondia em bugalhos, e dali não saímos durante toda a manhã.
A determinada altura, confesso que não saí mais cedo dali, nem foi tanto por mim, o sol, no seu percurso arqueado, bem que me incomodou em determinados momentos, senti-me enebriar demasiado pela sua languidez, foi mais pelo animal, que parecia satisfeito por ter alguém com quem partilhar a manhã.
O clima é instável nesta altura do ano e, de um momento para o outro, o céu ficou cinzento e uma chuva forte, sob a forma de aguaceiro, começou a cair. uma chuva inadequada para aquilo que me ia sair da boca, em tom irado e dominador, "Voa daqui para fora, já não te posso ouvir", mas tive pena dele, eu que sou um coração de manteiga, e ele, ali onde se encontrava, estava protegido pela reentrância dos telhado, não consigo ver pássaros à chuva, incomoda-me, é obvio que o deixei ali estar.
Por tudo isto, acabei só por lhe confessar por onde andava de noite, quando fechava os olhos, mas isso não é coisa pouca, são os nossos sonhos que se revelam, mesmo aqueles que se prendem com o facto de estarmos acordados,
No dia seguinte, bateram-me à porta. Estranhei, à quela hora, ou a outra hora qualquer, não era comum que alguém tocasse à campaínha sem um prévio aviso, um telefonema ou uma simples mensagem de telemóvel.
Um desconhecido, com nariz adunco e cara de poucos amigos e que se encontrava desenhado na minha cabeça há muito, ali estava agora, parado à minha porta.
_Escadas que sobem e descem sem fim possível, odores flutuantes que vagueiam entre as velas e as suas chamas e sombras que se deslocam nas paredes pelo tremor delas? Universos diferentes? Tem de me acompanhar, está presa!_
E aqui fiquei, já nem sei por quanto tempo, encerrada numa gaiola.