sexta-feira, 28 de julho de 2017

James

Não era porque não teimasse que não conseguia concentrar-se no que dizia a professora.
Esforçava-se, tentava, mas uma abelha insistia em chamar-lhe a atenção, ao querer sair pela fresta da janela, até já a tinha aberto um pouco mais, devagarinho, para ninguém reparar, mas o bicho, nitidamente, não percebia a diferença entre a transparência do vidro e o caminho para a liberdade.
Por causa da abelha, que saíu, finalmente, da situação de perigo, olhou lá para fora tentando localizar  onde estavam pousadas as pombas. Tinham de estar muito perto, porque ouvia, nitidamente, o seu arrulhar.
James!_ Chamou a professora, atenta, _Não podes estar ao pé da janela. Muda de lugar._
Sentou-se em frente ao quadro, e olhou, o mais fixamente  que sabia, tinha já aprendido o ano passado, na escola, a fixar o olhar, sobretudo na boca que mexia verbalizando a explicação.
A menina que se levantou, e passou ao seu lado, tinha marcado nas pernas um traço avermelhado, provocado pelo facto de estar muito tempo sentada na cadeira. Quando ela começou a falar admirou-a por saber a lição toda, reparou no seu cabelo, deu conta dos seus ténis cor de rosa, e do anel da professora com uma pedrinha encarnada, e então, apercebeu-se de que, dali, ficava numa posição estratégica para observar muitas cores, e lembrou-se de fazer uma espécie de jogo, procurando objetos na sala primeiro azuis, depois amarelos, e depois cor de laranja.


domingo, 23 de julho de 2017

Elisa (EI)

#Elisa ia sentada no banco de trás do automóvel.
Entretinha-se, como sempre, assim sossegada, observando o correr da paisagem, ao seu lado, metódica, do outro lado do vidro.
Até à periferia viam-se as fábricas ao fundo, com as suas chaminés, altas e esguias, expelindo rolos de fumo, e no chão, grandes espaços que milhares de flores das azedas ao cobrirem o chão de amarelo, faziam-no parecer um cobertor macio, um tapete para os gigantes pisarem com as suas grandes passadas.
Mas Elisa sabia muito bem que eram apenas uma enorme quantidade de pequenos e persistentes pontos móveis em função da velocidade do carro.
Outras coisas  seguiam, rápidas, como linhas segmentadas ao seu lado.
O céu, imediatamente antes de as dissipar por completo, formava, com as nuvens, novas imagens de coisas efémeras, reais, mas breves,com uma duração média de vida, talvez, de quatro ou cinco segundos.
No entanto, e sabia-o, ia-lho dizendo a mãe, sentada à frente, com o seu descomunal penteado a tapar toda a visibilidade possível para a velocidade da estrada, era inevitável, à passagem do sinal indicativo de proximidade a um excesso de azul no horizonte, e  alertando, também, para outros perigos desmedidos das vias rápidas.
Mas, enquanto a mãe falava,  a sua voz ia ficando abafada por outros ruídos, e ela acabava por se recostar e adormecer, embalada pelo seu próprio pensamento.

sábado, 22 de julho de 2017

Bicicleta II (EI)

Li, faz pouco tempo, um estudo sobre os estudos que revela que a maioria deles são um enorme disparate.
Para além desse ,também li um sobre os benefícios de andar de #bicicleta enquanto, e ao mesmo tempo, se comem cerejas.
Segundo a informação que me foi disponibilizada, este hábito contribui para o bem estar geral, físico e psíquico, do indivíduo.
As cerejas são transportadas em apetrecho próprio, que se prende ao guiador, devendo o primeiro ser comprado em lojas da especial...idade, e o seu preço pode variar entre cinquenta e duzentos euros, sendo que os mais caros possuem um pequeno recipiente onde se vão colocando os caroços, evitando assim que se atirem para a berma da estrada, o que pode provocar o assassinato involuntário de formigas e outros pequenos rastejantes.
Não vejo porque não acreditar neste estudo, já que decorreu num intervalo de tempo de dez anos, e nele participaram mil indivíduos, entre os quais se encontravam dez ouriços caixeiros e quarenta lagartixas.
Parece-me, portanto, da maior credibilidade.

A Bicicleta

Todos os dias, à mesma hora, um homem passa de bicicleta  pelo caminho das cabras.
Não se lhe veêm as feições, o sol incide sobre a sua silhueta, recortando-a entre o rio e os milheirais.
Ninguém sabe quem é a estranha figura, e todos nos conhecemos nesta pequena aldeia, bem como conhecemos os habitantes das povoações que por aqui existem espalhadas pela serra.
Diz o povo que poderá ser a assombração de um homem que caíu ao rio e morreu, quando pedalava, desesperado, em busca da mulher desaparecida.
Não digo que não.
Estes campos e pinhais são plenos de fantasmas. Sei porque os vejo, grandes figuras na sombra, movendo-se silenciosamente para a maioria das pessoas, mas não para mim, que tenho um ouvido apurado, e os ouço, nitidamente, por entre as folhas.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Simplificando


Simplificando,
estamos com sorte.
Aqui por Sintra
depois de umas horas
de chuva miudinha
e de um cenário cinzento
o tempo parece querer
abrir

(Quando abrir
maquilhará de novas
cores
as transformações
involuntárias
de tecidos como
a derme e a epiderme,
o interior e o
exterior da pele,
mas isso não interessa.),

e manter-se
assim, aberto.

São tão lindas,
muito grandes,
e perigosas, eu sei.
Podem e devem
as copas frondosas
destas árvores
molhadas
pois se têm lá dentro luz,
e elas, enormes, lavadas,
é certo que brilharão,
e podemos passear.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Zulu (EI)

Tanto podia ter sido em #zulu como noutra língua qualquer, a verdade é que os miúdos gostaram de ouvir o som das suas próprias vozes a ecoar nas escadas.
Gostaram do efeito produzido, e então, repetiam incessantemente o riso em guincho, muito desagradável, contrariando o habitual e mavioso riso das crianças.
Mas tudo é bonito na infância, tudo cresce e floresce, e os petizes sentiam-se felizes, até que um deles começou a choramingar, no segundo andar, nunca atingindo, felizmente, o choro a plenos pulmões, não estou certa de que tenha sido para o eco não me incomodar.
Também os ouvi a tinir, estridentes, os talheres de alguém que almoçava na cozinha.
Nesse dia, não sei porquê, tudo afrontava o meu desejo de silêncio.

XVI ( Escrito para EI com ideia exterior)

As suas visitas são imprevisíveis. Sobe a árvore com destreza, percorre, em passos rápidos, o galho virado para a janela, e, num salto elegante, projeta-se para dentro do quarto, indo cair em cima do tampo da cómoda.. Aí, cheira desinteressadamente o perfume ou um livro abandonado que por lá esteja, e senta-se, em pose altiva, com a cauda enrolada à volta do corpo.
Quando a janela está fechada, equilibra-se no parapeito, e arranha uma ou duas vezes o vidro, para que a deixe e...ntrar.
Usa sempre um chapelinho colorido, e muito fora de moda, que tanto pode ser em rosa vivo, e cujo acessório são duas margaridas, como em verde garrafa com violetas, ou em azuis, turqueza e petróleo. Neles prende, por vezes, com um alfinete próprio, não umas flores quaisquer, mas sim as de cada época.
Já me explicou porque são os chapéus de dimensões tão reduzidas. Para que não lhe prejudiquem os movimentos. Tem que atravessar passagens muito estreitas, dar saltos acrobáticos, fazer aterragens difíceis sobre a humidade dos telhados.
Hoje estava muito elegante. Tinha um chapelinho redondo, cor de mirtilo, com uma flor de cera, que é o nome vulgar dado às belíssimas flores da Hoya.
Contrariamente ao habitual, normalmente conta histórias extraordinárias de becos e vielas, rixas violentas, ou paixões noturnas, que só ela vê com os seus olhos apetrechados,
hoje, como dizia, não falou. Limitou-se a tirar o chapéu com uma das patas dianteiras,e estender-mo, para eu ver o que lá dentro estava escrito: #XVI.
Colocou-o, de novo, sobre a cabeça, e saíu por onde entrou.
Quando voltar, espero já ter decifrado o enigma, e espero que mantenha a indumentária, porque tem umas cores mágicas e bonitas

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Quarteirão II (EI)

Não cabia mais nada
na estante vergada
onde estava o livro
que retirou para ler.
Pegou nele...
soprou-lhe sobre a lombada
e o pó,
muito naturalmente,
dispersou no ar.
Depois,
usando a precisão
de um papel qualquer
que estava
metido entre as páginas,
abriu-o.
Foi quando encontrou
umas palavras
escritas a lápis :
Deixa-te de absurdos.
Ass. #Quarteirão

Quarteirão I (EI)

Apesar de viverem no mesmo #quarteirão,e atravessarem todos os dias a praceta que ele formava, nunca se tinham encontrado.
O destino, ou o acaso, não sei, quis que um deles tropeçasse numa das galinhas que, às vezes por ali andavam a debicar.
No momento em que isto ocorreu, a senhora do segundo andar andar do número 28, sobressaltada com o barulho, deixou cair da janela o tapete que estava a sacudir.
Atordoado, mas inteligente, o animal percebeu ser aquele o tapete voador de... que tanto se falava, e deu mais uma corridinha atabalhoada, saltando-lhe para cima.
O galináceo tinha, obviamente, razão. O vôo ainda durou uns largos segundos e foi muito bom. Teve oportunidade de espreitar uma pessoa a secar o cabelo, duas a verem televisão, e uma outra a esquartejar o que lhe pareceu ser o seu irmão Domingos,
Não se sabe, entretanto, o que aconteceu, a verdade é que o tapete perdeu a sua energia propulsora, e caíu aos pés do casal.
Tanto o homem, como a mulher, assistiram o bicho no local, percebendo assim terem ambos profissões dentro da área da saúde, o que gerou a descoberta de muitas outras afinidades entre os dois.
Acabaram por casar.

Simpatia (EI)

Ai! Eram uma #simpatia,
uma simpatia!
Tão simpáticos, tão simpáticos!
Que maravilha!
E lindos, lindos...! Ai! ...
Tão bonitos e frescos,
eram maravilhosos, uma simpatia,
...uma simpatia!
Ai tão bons, tão leves, tão suaves.
E a simpatia deles?
Uma coisa...!
Espectáculo!
Simpatiquíssimos, amáveis,
Corretíssimos!
E tantos!
Foi incrível!

Rede (EI)

Após anos de trabalho
minucioso e persistente
conseguiu abrir
um buraco na #rede.
A seguir, ...
supostamente livre,
atravessou-a
para se sentar
do outro lado,
e lá ficou
com os braços a envolver
os joelhos,
e as costas apoiadas
nos arames.
Porque não andou
não correu
para se afastar
do objeto
que, quase eternamente,
o privou
da liberdade?
Porque tinha um só
desejo
dos mais simples.
Eliminar
da belíssima paisagem
aqueles horríveis
quadrados.

Aladino (adaptado para EI -Urtiga)

Complicando, assumindo o risco
quero lá saber
dei por mim a desejar,
imitando descaradamente
Aladino maravilhoso e a sua lâmpada....
Foi só ao que vim.
Áquela música extraordinária
bem capaz de me pôr a....
Sempre o mesmo
apenas um desejo e não três.
Não há lei nestas frases, Aladino, eu aviso.
Cobrem as folhas só até ao dia da reciclagem do
papel.
E aí, iremos os dois às #urtiga(s),
e seremos outra vez bloco de notas
envelope grosseiro
marca de livro,
mas eu não quero, sequer,
saber!

sábado, 8 de julho de 2017

Bom Tempo (EI)

O #bomtempo opera, naturalmente, modificações na estrutura simples de um jardim por onde, por rotina, passo.
Altera-lhe os contornos e os aromas.
Suspeito, que, num aproveitamento miserável desse fenómeno, alguma entidade se esconde, entre a claridade da manhã e o parque das crianças.
Mesmo ali, a meio do caminho, entre a humidade das folhas, e o silêncio habitual dos arbustos de flores brancas.

Droga II (EI)

Debaixo da tília cheirosa
permanecem personagens
(olha a Camila e a #droga, por exemplo)
e brincadeiras de palavras
propositadas
e tu vais dançando, dançando...
Depois vem a noite, ...
e a noite sempre acaba
onde o cão ladra
infinitamente longe
do papel.

Drogas (EI)

Era uma vez uma avózinha,que vivia num lar, e que era muito bem disposta.
Quando era nova, estava sempre a fazer sorrisos de orelha a orelha, e a produzir aquele som do riso. Esse som, também gostava de o ouvir nos outros, e, melhor ainda, se o fizessem em uníssono, fortes, sonantes, e expontâneos.
Gostava de rir e sempre gostou, e então ria, na sua cadeirinha em frente à televisão do quarto.
... As senhoras que tomavam conta dela todos os dias, à hora certa, davam-lhe um copo de água, depois de, invariavelmente lhe aconchegarem o cobertor aos pés, mesmo que as suas pernas já estivessem completamente sufocadas.
Claro que isso era ridículo, mas, mesmo que não fosse, a velhota, astuciosa, não deixava de soltar sonoras gargalhadas.
Então, a senhora ajudava-a a segurar no copo com a sua mão firme.
"Vá, agora as #drogas:
Uma para a dor, outra para o sangue fluir, outra para reter o fluxo de sangue que flui, outra para dormir descansadinha, e esta, que a senhora parece apreciar tanto, D. Gertrudes, para parar de rir."

Favas

O míudo estava sentado à mesa, com as mãos a apoiar a cabeça.
" Tira os cotovelos de cima da mesa!"
O miúdo tirou os cotovelos de cima da mesa.
" Só sais daí quando comeres tudo! Temos que gostar de todos os alimentos. Come!"
" Estou aqui com um problema", pensou a criança." Eu não vou comer esta porcaria. Tenho de arranjar uma maneira de me livrar disto"! Já tinha experimentado dar ao cão, q...ue estava deitado aos seus pés, também ele com a cabeça entre as patas. O cão cheirou, atraído pelo aroma do chouriço, mas também não comeu.
Olhou em volta, não viu nenhum esconderijo possível para despejar o conteúdo do prato, sem, mais tarde, ser apanhado, só lhe restava a janela.
Quando a mãe saíu da cozinha por uns instantes, o miúdo, rapidamente, atirou a comida para o espaço.
Alguém que ía a passar na rua a tirar fotografias a tudo, um hábito bem comum hoje em dia, conseguiu apanhar as #favas em queda livre, e mandou, de imediato, as as fotos para um jornal.
Ùltima hora: Chovem favas a sul!

Golfinho

A mãe golfinho ia a conversar com a filhota que ia ao seu lado.
Um pouco mais à frente iam o avô do pequenote, o pai e a tia. O seu filho mais velho, e o seu cunhado, de quem ela não gostava nada porque andava sempre a mirá-la, vinham atrás.
"Agora prepara-te, Pinguita, vamos saltar todos ao mesmo tempo para ficarmos fora de água. Aproveita, e olha para o lado da praia. Quero-te mostrar os humanos"!
A um sinal sonoro dado pelo marido, um sinal que era a coisa mais linda, saltaram todos, formando com os seus corpos uma elegante curva projetada contra o céu.
"Viste-os, Pinguita? São engraçados, não são"?
"Sim!
E dão para comer, mamã"?
Dão. Mas ninguém os come, Pinguita! Têm um sabor horrível"!

Jogo (EI)

Voavam palavras no espaço.
Primeiro saíam em letra.
Depois juntavam-se na fenda
que normalmente existe
entre o ar condicionado,
muito direito,
e a parede. ...
Lá para o fundo,
um pouco abaixo, não muito,
os sórdidos terraços
das traseiras de um hotel.
Talvez os respiradouros por dentro.
E uma linha de mar
disparatadamente longe
quase impossível de ver.
Tremiam como asas de borboleta,
instáveis vírgulas, pois é.
Instáveis e incoerentes, quase todas.
Próximas.
Carentes de sal
corantes de sol e sabe a fel
ou falta um til,
seja o que fôr.
#Jogos de palavras....
O espaço
em
completa
liberdade!

Keil (EI)

#Keil pintava,
papagueava e morreu.
Teve a sorte,
a tremenda sorte,
de existir um kapa no abecedário ...
equidistante
do jota e do ele.
Nós, que tantas vezes
passeamos
à beira Tejo
naquela vila tão linda, Constância,
linda para não variar,
onde viveu e passeou
Camões,
precisamos do kapa
como do pão para a boca
para pescar
universais peixes de rio
e outro tipo de
salmões.

Ágora

Quando vi ágora
confesso,
tive um certo
descontentamento.
Então, ...
(e apesar do pedido expresso),
retirei-lhe devagarinho
o acento.
Ah, agora sim,
uma belíssima palavra
usada,
e o seu encantador
movimento

Movimento

Em breve a árvore crescerá, e a sua copa tapará por completo o troço de estrada de onde eles, nos dias mais relevantes, me dizem adeus.
Só nos meses do verde, porque os meses do verde transportam consigo, referentes a si e aos outros,a noite, que acaba onde o cão ladra, já o disse e insisto, a noite acaba onde ladra o cão mais distante.
Nestas vilas de calor diurno, entra pela janela uma brisa fresca, movimento impercetível nas repetidas noites do ladrar do animal.
De ...manhã, as pessoas sentam-se a descrever o vazio, umas no seu décimo computador, outras no seu milionésimo caderno.
Normalmente explicam trivialidades, como, por exemplo, a solução engenhosa do ambidestro para resolver o seu problema com a concavidade dos esses.
Muitos pedem desculpa da sua desconfortável e incondicional admiração pelo maravilhoso e absolutamente fantástico, outros relatam como rodearam obstáculos, ou os saltaram com a maior perícia exequível.
Quanto a mim, podiam ter feito melhor. Demasiados suspiros e rasuras na mesma linha, e muitas, muitas incongruências.
Em breve a árvore crescerá, e a sua copa tapará por completo o troço de estrada de onde eles, nos dias mais relevantes, me dizem adeus.
Eles, e o corpo quente do falar do cão.

Nu (EI)

A expressão "estava todo #nu", neste caso não se pode aplicar. O homem tinha calçadas umas meias brancas.
Umas horas depois, começou a ter frio e enfiou-se no resto da roupa.
Quando se vestiu totalmente, perdeu o direito de se transformar em post para o dia de hoje.
Tive pena, mas não pude fazer nada. Já o tinha avisado vezes sem conta:
De peúgas e/ou boné talvez se dê um jeito. Agora, se te vestes mesmo, estamos lixados! Já não passas!

Preconceito

Abriu a caixinha de música, e qual não é o seu espanto quando vê, no lugar habitual da pequena bailarina, um tomate.
De olhos arregalados, quase colados ao intruso, tentou perceber o que tinha acontecido.
O tomate sorriu-lhe, mas ela não retribuiu o sorriso.
"O que é que estás a fazer no lugar da minha bonequinha?"
O tomate, perante a reação da miúda, deixou de sorrir. Ficou até com um semblante muito triste, e começou a fungar....
A menina era muito boazinha, e não gostou nada de o ver assim. Meteu a mão no bolso e tirou de lá um preconceito que lhe ofereceu para ele limpar o nariz, enquanto o sossegava, dizendo-lhe que podia permanecer ali, sem qualquer problema.
Desde esse dia, quando recebia a visita dos seus amiguinhos da escola, a menina abria, orgulhosamente, a caixinha de madeira.
As outras crianças ao verem que, onde devia estar uma pequena bailarina, estava um tomate a rodar, e para mais ao som de tão suave melodia, ficavam encantadas.