quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Diversões ( Adaptado para EI) Sela.

Foi por um acaso que o comboio entrou naquele túnel.
Até ali tinha tido um destino  incerto, mas os seus olhos de comboio perceberam-no quando ainda era apenas um pequeno ponto de referência no céu, e assim dicidiu encaminhar-se para ele.
Entrou então, ansioso por ver o que lhe reservava aquela escuridão inicial, sem qualquer medo de que fosse duradoura ou mesmo eterna.
As pequenas carruagens encaixaram-se nos carris,e, logo depois da primeira curva, à sua direita, Adriana apercebe-se dos cantos iluminados, com figuras articuladas, que sabe tratarem-se de bonecos de madeira. Soldadinhos, bailarinas que bailam sobre o si próprias, numa dança encantadora e comovente, sapos que falam. guerreiros montados a cavalo, muito direitos nas suas #selas.
Mas, por um imprevisto qualquer, o comboio, naquela viagem louca e rápida, a deslizar sobre um eixo, estanca o movimento,
Adriana esperou tanto tempo pelo reinício da viagem, que acabou por se desembaraçar da trave de segurança, e desceu, ágil, por aqueles mecanismos, até junto da Rainha de neve, que acenava com ar triste aos seus subdítos.
"Estou com alguns remorsos de pensar sempre pelo melhor, mas não agir em conformidade."
"Alguma coisa de bom hás-de ter feito."
Noutro patamar uma sereia chamou-a, e ela, com alguma dificuldade, a saia atrapalhava-a constantemente, trepou até lá procurando apoio nas reentrâncias da engrenagem.
"Tens as mãos frias, sereia, É por seres a única de bronze."
Nisto, Adriana olha para cima e vê os grandes olhos do comboio, que se mantinham estáticos e mortiços há um tempo. começarem a avivar lentamente. Primeiro abriram um pouco mais, e logo começaram a rodar sobre as órbitas loucamente, até se acalmarem para os gestos cordenados e naturais dos olhos encantados.
Depois foi rápido. Nuns segundos desapareceu, acompanhado pelo seu ruído de comboio virtuoso, a  diminuir no espaço fechado.
A míuda assustou-se, é claro, sózinha, sem forma de sair de um mundo encantado, nem para uma criança se revela fácil, mas o seu medo durou pouco tempo, porque ainda não tinha passado no recanto das fadas, e cujas vozes acabou por, concentrando-se,ouvir nitidamente,
" Não há qualquer dificuldade para ti em saíres daqui. Adriana, usa, em vôos curtos, as tuas pequenas asas."




sábado, 2 de setembro de 2017

Um Tinto Reluzente

Da minha janela vê-se com bastante nitidez a sala de um andar do prédio em frente. É o quarto andar, logo abaixo do meu.
Percebem-se muito bem os móveis, e até quaisquer objetos que possam estar sobre eles.
Às vezes, em cima da mesa, que é o que melhor se vê daqui, repousa louça suja. Outras está tudo pronto para uma bela refeição, os talheres alinhados com os pratos, tudo a casar com uns bonitos copos de pé alto com o vinho a reluzir lá dentro. Outras vezes ainda, a mesa não tem nada em cima dela, Aparentemente, porque não garanto que esteja livre de algumas migalhas, isso já é pedir muito aos meus olhos, daqui, parece estar tudo limpo e arrumado.
Hoje, pelo que consigo vislumbrar, vão comer um belo naco de carne, acabadinho de preparar,  quase consigo  sentir-lhe o cheiro.
Ando pela casa a cirandar. coisa de fim de semana, e ainda agora espreitei, traída pela curiosidade. A mesa estava  na fase prévia da refeição, muito bem arranjada para receber as pessoas  ao almoço.
E estes aqui do lado a garantirem-me, constantemente, que o apartamento está vazio há anos, e que nem sequer mobília tem...!
Estive quase para perguntar, mas não quis ser indelicada:
"Então à noite não veem  aqueles lustres acesos, luxuosos e brilhantes,lá de vossas casas?"


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Sino (EI)

Agora em Setembro há-de passar aqui à porta a procissão da Nossa Senhora que no momento não me lembro quem é, mas que sei muito bem de quem se trata.
Gosto de os ir ver à janela.
 Eu sei que lá vêm, porque são precedidos pelo som, que se aproxima, da banda a tocar, e são também os elementos da banda que aparecem primeiro no meu raio de visão.
 A seguir começam a surgir as figuras das santas, sempre da maior para a mais pequena, muito lentamente, e transportadas por homens que as elevam no ar.
Depois das santas, e das pessoas que as envolvem, ainda segue uma vasta muitidão de gente pela estrada fora.
Da procissão  constam, ainda, vários elementos da polícia local, e por último uma fila interminável de automóveis praticamente parados, apanhados pelas contingências do trânsito.
Durante esse período os #sinos da capela ouvem-se muito bem daqui: Dão badlam! Dão badalam!