terça-feira, 22 de setembro de 2015

A velha migra

A safada da velha deve ser tesa. Já atravessou duas fronteiras, já vai para a terceira, sempre a coxear um bocadito, mas lá vai ela, agarrada a uma mulher mais nova, que deve ser a filha.
Mas o que é que esta velha quer? Fosse eu a mandar dava-lhe uma bastonada e ala para o país dela que se faz tarde! O que vem para cá fazer? Queres ver que vem a fugir da guerra para uma nova vida? Deixa-me rir! Para quê se já é tão velha? E quando estiver mais refeita da viagem, que, admito, deve ser um bocadito cansativa para ela, aposto em como vai provocar distúrbios.
Olha que ouvi dizer que até as ratazanas se têm ressentido nos países que recebem esta. gente! Estão mais magras.Continuam de grande porte mas já não têm uma vida tão farta!
A mim, a bem dizer, não me custa assim muito este problema dos migras. Vejo-os pela televisão, montes deles,e quando o assunto me incomóda, mudo de canal. Só aquela velha tesa é que me causou um bocadinho de irritação, e vivo num país livre tenho direitos, e tenho opinião, falo, e a mulher idosa ainda por cima é coxa. Se recebermos muitos coxos, será um enorme rombo para o serviço nacional de saúde. Sinceramente, tenho muito mais pena dos bebés e dos pais, alguns com sangue na cara.
E por ser uma pessoa informada, e ter tanta consciência social, no sábado vou a uma manifestação de cidadãos do MAVEM (movimento anti-velhas encarquilhadas migra), que eu própria organizei!
Não vi a reportagem toda, chateou-me, mas a velha não deve ter vindo por mar.Naqueles barquinhos a transbordar nunca vêm idosos. Ou então são os primeiros a serem lançados borda fora. Ou então , como já viveram muito, decidem continuar lá pelas guerras, o que prova que não deve ser assim tão mau!
Fico orgulhosa de mim própria. Se houvesse mais gente como eu (este jeitinho para o discurso também ajuda bastante, confesso)!
Pessoas pró-ativas,que se informam, se manifestam, participam, tudo estaria extraordinariamente melhor!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Curiosidade

Quando viu a fotografia, a primeira curiosidade que teve foi saber, não porque eram tão bonitos aqueles olhos, mas para quem, tão suaves olhavam, e porque tinham água, só visível na penumbra, e porque havia movimento naquela foto, que é uma coisa tremendamente parada.
E refugiou-se naqueles cílios brilhantes, e navegou naquele mar, que num ápice deslizou para um canto, e caíu em gota salgada.
Pareceu-lhe então ver um oceano inteiro contido naquela lágrima.
E os olhos? Para onde olhavam? E o corpo? De quem se aproximava? De ninguém! Pois o correto e o certo é que ninguém lá estava, e já agora por isso, queria saber, curiosidade apenas, se é tão bonito assim não olhar para nada!