segunda-feira, 12 de abril de 2021

#Intriga

Preparou uma resenha de palavras sem sentido,
no papel que encontrara para 
para fazer um avião para lançar das falésias. 

Ao fim da tarde iria lá. 

Esperava que o vento soprasse de feição, 
nem muito forte, nem ausente,
só o necessário para que o objeto,
construído aerodinamicamente,
percorresse uns metros de céu a direito, 
com o focinho de papel virado para o oceano.

Escolheu frases ao acaso, porque sabia que, 
mais tarde ou mais cedo,
não  haveriam de permanecer, ficariam encharcadas, 
desfeitas em moléculas ilegíveis, 
admitindo a verdade de que as palavras escritas
não servem senão para que as leiam.

Todavia, não se preocupou com a mensagem. 

Era só uma brincadeira solitária,
uma conexão com viagens sem destino, 
ou com um quotidiano de finais incongruentes,
tanto lhe haveria de fazer que se diluíssem, ou não, 
enquanto boiavam na água, 
de olhos postos nas nuvens, 
enquanto aguardassem a desintegração. 

E portanto, sem raciocínio de maior, 
ou qualquer outro instrumento para as conectar, 
pegou na caneta que tinha no bolso, 
ajeitou a cadeira, que estava um pouco afastada da mesa, 
sentou-se mais confortavelmente 
e escreveu meia folha de uma #intriga de frases, 
errantes,
completamente alheias ao propósito de 
escrever. 

O sol desaparecera, levando a sua tonalidade amarela 
para outros lugares do mundo, 
a noite aproximava-se rapidamente
e o mar permaneceria azul por escassos momentos.

Com o braço encolhido,
para ajudar no impulso fundamental para o lançamento, 
segredou umas palavras ao objeto voador 
colando os seus lábios a uma das asas.
 
Murmurou-lhe um qualquer feitiço, 
daqueles das bruxas antigas que rondavam, às vezes, 
em torno de si.

E o avião seguiu durante algum tempo o seu vôo planador,
perdurando na brisa, até cair na água salgada.










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