sexta-feira, 7 de maio de 2021

Pedrito fugira de casa com onze anos, #imberbe e inocente, para regressar agora, duas décadas depois, com a ponta da  barba  a bater-lhe no umbigo, que por sua vez espreitava pelo intervalo da camisa repuchada.
Estava irreconhecível. Ao princípio, nem acreditou, quando ele insistia que era o filho da vizinha Telma, mas quando ele esfregou a manga do casaco no nariz para o limpar, ela reconheceu-lhe o tique de criança,  quando tinha o nariz a pingar e o limpava ao bibe. 
_Ó Aderito! Adérito, vem cá!_ chamou ela o marido _vem ver quem está  aqui à nossa porta!_
Adérito levantou-se e, cheio de curiosidade, espreitou por trás da figura da mulher.
_Oh!_exclamou_ O Pedrito, agora enorme e peludo! Nem parece ele! Mas a mim não me enganou. Continua a ter os mesmos olhos doces de sempre. Ora prova lá, Albina_ e enquanto falava com a mulher, foi tratando de retirar um dos olhos ao homem para ela provar.
_São doces, sim_confirmou Albina. É ele, o Pedrito! E mais a apanhar o ranho com a manga... Era  muita coincidência. Põe-lhe o olho no sítio, que ele já  está  a chorar do outro e nesse as lágrimas não lhe caem._
__Sim. Desculpa. Ainda ia parar à gaveta dos perdidos, os que eu provo e depois esqueço-me de devolver. Que cabeça  a minha... Mas que alegria, que alegria! Não  tinhas um pelinho só na cara, eras uma criança,  e agora pareces o King Kong, a tua mãe já te viu? Grande desgosto que ela vai ter, aposto... Oh... Não chores... Ó Albina! O olho está mal colocado. Rodaste para a direita ou para a esquerda?_
_Se ele chorasse menos, aguentava-se, mas pronto, é o meu azar do costume..._








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