sábado, 13 de maio de 2023

O homem julgava encontrar-se sózinho naquela ilha, de forma que ficou surpreendido quando, após ter desenterrado a garrafa, presa na areia molhada por pouco, mesmo ali à beira da água, trazida pelas ondas compridas que enchem a maré, leu o que estava escrito na mensagem que ela transportava dentro do seu corpo de vidro.
O objeto, cilíndrico e baço,  boiara pela superfície da água, viera ondulando e estacara por ali, já na fase em que as ondas começam a retroceder e abandonam umas quantas coisas na praia.
Havia dois dias que  estava preso na ilha. Acordara atordoado e nem a noção  do tempo parecia ter, julgou-se em abandono total, o desespero tendia a invadi-lo, embora estivesse a lutar com todas as suas forças para isso não acontecer. 
Foi natural e humano que, vendo uma folha de papel dobrado, invenção inequívoca do ser humano, prova provada da sua existência, sentisse, de alguma forma, um certo alento, nem que se tratasse apenas de um recado de duas ou três palavras, e a esperança de que a garrafa não  tivesse percorrido um oceano para ali chegar, e, por consequência, um maior afastamento.
Tadeu retrocedeu uns metros, para se sentar na areia seca, e, com a ajuda de um lenho de arbusto que o vento empurrara das dunas até ao areal, e gestos meticulosos, tratou de retirar o pequeno manuscrito de lá de dentro e salvá-lo da sua prisão perpétua, à mercê das ondas.
Não é nada fácil explicar muito em poucas palavras, o que rornava a missiva incompreensível, e para mais que a tinta esborratara das letras e destruíra irreparavelmente o recado.
Ainda assim, ao homem pareceu-lhe mais umas coisas que outras, tendia a puxar o sentido da mensagem para algo esperançoso, uma sugestão, por menor que fosse, para acordar do pesadelo que parecia, afinal, ser a própria realidade.
Então, onde podia ter lido, alguma frase irrelevante, daquelas que viajam à tona da água imortal, naufrágios de cem anos e outras memórias desnecessárias, ele julgou antes tratar-se de uma