sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Sem Fronteiras

Se bem me lembro,
As velas derreteram sob o efeito da chuva ácida 
A paisagem ocre transportou numa folha de loureiro,
o cheiro do louvadeus qua ali pousara, instantes antes.
Essa árvore  vivia encostada a uma ribanceira, 
escura e afitivamente estática,
enquanto falava pelos cotovelos.
A fonte era mais à frente, era a nascente de água pura, 
que saía, e sai,  de uma fenda nas rochas.
Os cães ladravam tão longe, no silêncio, 
pareciam  animais selvagens 
anunciando qualquer coisa,
quem me dera que fosse a renovada  promessa das flores, 
um ano após o outro.
A estearina caíu-lhe no sapato e secou imediatamente, 
espalhou-se em redor formando flocos de neve.
Barbie sentou-se no chão, muito direita e desconfortável,  
de pernas esticadas na relva.
Nunca vi a Barbie assim.
O gato, com as suas patas mudas,
parecia o gato das botas 
aparecia subitamente de outros lugares,
ora estava em cima da mesa, ora no chão, 
ora saltava de móvel em móvel
ficando uns minutos a observar, do alto do armário,  
como se tudo aquilo fosse o seu reino,
o reino de um gato preto e forte.
Outra vez os violinos, o violono, melhor dizendo, 
arrastando a sua dor até  mim.
Bailava completamente invisivel na atmosfera, 
mas ouvia-se com nitidez.
A tempestade levou-nos as árvores,  e nós aqui, 
esperando por elas, 
ou confiando que as suas raízes mortas 
continuem a segurar a terra.
Até os meus livros, tenho ideia,
foram levados por ondas enormes,
como todos os  outros,
Estavam na praia a ver o luar maravilhoso dessa noite.
A cera derreteu devagar.
A vaga veio e levou-os para o mar alto,
para junto das sereias.












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