O meu lado racional apontava, bastas vezes, para uma ilusão de ótica, ou, até, e pela consciência plena de que gosto de inventar histórias, tratar-se apenas de fruto da minha imaginação, mas quando ele lá permanecia, após os verões de folhagem imensa, e mesmo nos invernos despidos, em que só restam troncos e galhos esqueléticos e quase sem movimento, lá estava ele, de perfil carrancudo, enorme e silencioso.
Durante muitos anos fez-me companhia, na sua vida silente, apenas incitada pelo vento, de quando em quando, mas não sou pessoa de não perceber a diferença entre a linguagem de um mítico gigante e o murmúrio de uma corrente.
Quando as árvores foram cortadas, o meu desgosto foi grande. Imaginei o pior, vê-lo a morrer lentamente, prostrado no chão, porque iria morrer abraçado às árvores, que têm, como sabemos, uma forma vagarosa de morrer.
Mas como a memória se prende com o #avançar do tempo, e a minha não é exceção, fui esquecendo a minha companhia,
Certo dia, num dos meus passeios por esta bela serra onde me agreguei, espero que para sempre, admirava eu os velhos plátanos, a sua beleza notável e majestosa, numa certa distração, pois quanto mais acedemos àquilo que é formidável, menos o valorizamos, reparei por acaso, na forma sugestiva de uma daquelas belas árvores.
Nem tão pouco me recordava de ter concebido, naqueles dias desoladores após o abate, a possibilidade de fuga de tão extraordinária criatura que sempre acompanhou as minhas reflexões, os meus silêncios, a minha tranquilidade.
Contudo, lá estava ele, vivíssimo e grandioso, e disponível para quem o quisesse ver.
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