sexta-feira, 25 de março de 2016

Zimbro ( EI )





       Lembra-te
       que por vezes
       vagueio
       incorpórea
       entre ti
       e a tua pele.
       Como
       uma garrafa
       inteira
       de gin
       ou
       uma pequena
       colher
       de mel.

quinta-feira, 17 de março de 2016

O quintal ( Enciclopédia Ilustrada )

Um dia andava eu a deambular pelo meu quintal, lá para cima para as beiras, o silêncio interrompido pelo ladrar de um cão, ou pelo cantar de um passarinho mais enervado, os gafanhotos a saltarem a cada passo que dava.
Estava eu nesta harmonia total com a natureza, ia observando os cachos de uvas, o talhão dos feijões já em fase de secagem, os tomateiros, as alfaces, quando me apareceu um desconhecido acompanhado de um fantasma.
Vais ouvir os meus poemas, disse-me, senão lanço o meu fantasma do sovaco contra ti.
Fantasma do sovaco? Sim, mostra-lhe lá. E o fantasma levantou os braços, e eu pude ver dois enormes sovacos, muito bem rapadinhos, por onde saíam chispas de verdadeira maldade.
Bem, pensei, não tenho outro remédio, não deve ser assim tão mau.
Manda lá, então!
E o homem começou: lá lá lá lá, lá lá lá lá, lá lá lá lá, lá lá lá lá!
Aquela métrica aos saltinhos era tão desagradável, que eu fugi a correr e subi para cima de uma oliveira.
Imediatamente o fantasma dos sovacos foi em minha perseguição, embora tenha parado pelo caminho para apanhar umas folhas de couve portuguesa, para mais tarde migar para as galinhas.
Encurralada em cima da árvore, que as oliveiras são baixinhas, o homem continuou: lá lá lá lá, lá lá lá lá.
Não!!! Disse eu. E tapei os ouvidos com as mãos, o que me fez perder o equilíbrio, e caí no chão desamparada, dentro de um alguidar com água, que estava para ali abandonado há tanto tempo, que já servia de casa a alguns sapos e rãs.
Desmaiei!
Quando acordei, atordoada, não vi ninguém.
EI!!! Onde é que estão?
Estamos aqui ao fundo a roubar pimentos, para mais logo fazer uma sardinhada!
Tu vais, não vais?