domingo, 3 de outubro de 2021

Era uma vez uma bruxa tão branca, tão branca, que lhe chamavam a Bruxa de Neve.
Por ser branca e vestir de branco, passava despercebida nas zonas mais a norte do condado, onde no inverno nevava intensamente.
Por esse motivo, sobretudo, a Bruxa de Neve rondava as pequenas aldeias metidas nos montes, ou encaixadas em vales profundos, quando o inverno rigoroso se fazia sentir, sendo que nas outras estações do ano se refugiava na sua cabana, saindo apenas para se esconder nalgum lençol branco que por acaso estivesse a branquear ao sol, estendido numa corda em qualquer quintal.
A Bruxa de Neve tinha muito orgulho na sua cor, imaginando ser única no mundo, contando com as mulheres de todas as idades, credos e nações, porque ser único, todo branco, bonito e mau é, de facto, algo de muito especial.
Um dia, estando escondida nos reflexos da água de um grande tanque de lavar roupa, viu aproximarem-se duas mulheres de meia idade. Uma delas era uma criatura perfeitamente normal, de tez queimada do sol e trajes floridos, mas a outra tinha uma pele tão clara que podia confundir-se com o interior de um coco, ou com uma taça de claras batidas em castelo.
A Bruxa de Neve sentiu-se muito revoltada, sendo incapaz de aceitar o destino que agora a obrigava a ser a segunda escolha para os deuses, fossem lá quem fossem os deuses das bruxas daqueles lugares.
Preparou, então, um #engodo à pobre mulher, porque é disso, verdadeiramente, que trata esta história, de engodos suscetíveis de virar texto, pousando sobre uma pedra uma irresistível maçã, munida de poderes mágicos para ser comida apenas pela sua rival. 
Apesar de saberem da existência da Bruxa de Neve, as duas mulheres caminhavam cantando e rindo, esquecidas dos cuidados a ter, e assim, quando passaram pelo fruto, Aldemira declarou estar com uma fome terrível, não dando nem um pedaço à companheira e engolindo de um trago aquele presente amaldiçoado.
O seu corpo começou imediatamente a contorcer-se e, durante uns momentos, faíscas coloridas iluminaram um largo perímetro à sua volta.
Quando se restabeleceu, Aldemira estava transformada numa pipa de vinho tinto e a Bruxa de Neve ria à gargalhada, tão alto que pude ouvi-la aqui em casa.

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