quinta-feira, 31 de maio de 2018

Ulmeiro

As árvores têm uma vida muito aborrecida.
Tanto faz que sejam pessegueiros, como #ulmeiros, como sabugueiros.
Não podem sair do mesmo sítio, não podem correr, à vontade.
Os raros movimentos que fazem prendem, uns com o crescimento impercetível, outros com o abanar a que o vento as obriga.
Se se tratar de uma brisa suave, quase nem notam, nem elas nem nós, que nos perdemos tempo a olhar, embevecidos para as suas copas. Se se tratar de um vento um pouco mais forte, já falam. Ou, pelo menos ouvimos um restolhar muito especial, nada parecido com


Com tantas árvores que há por aqui, e o sacana do cão escolhe sempre o #ulmeiro.
Quando dou por ele, já está de perna alçada,
Bem posso gritar: "Sai daí! Olha o #ulmeiro!", que ele não liga nenhuma.
Depois vem a patroa, mete lá o nariz, e se ela tem umas ventas sensíveis, um faro apurado, isso é que tem, e começa a resmungar:
"Eu não te pedi para tomares conta?
Pois..., o mijo do cão dá cabo do #ulmeiro, não devias deixar, o #ulmeiro está a ficar seco
 por causa do ácido!
Comprei este #ulmeiro na Venda da Cabeçuda, quando lá fomos à feira, custou-me um dinheirão!",
E tu não sabes que o mijo é ácido?
Não falámos já nisso?
E que os #ulmeiros são mesmo super sensíveis?
Para que é que eu fui comprar este  #ulmeiro..., meus deus!
Um #ulmeirinho tão bonito... E se foi caro!"

Não é fácil...


















quarta-feira, 30 de maio de 2018

Pés de anjo

O pé do meu candeeiro
de mesa é um anjinho
com as asas pequenas
e o corpo gordo.
Como faria para voar,
pergunto-me,
se existisse realmente,
com sustento tão minúsculo
para suportar
todo o seu peso?
Se calhar, foi moldado
para ser
um anjo helicóptero.
Não lhe colocaram
umas asas maiores
propositadamente,
para não se confundir
com um anjo verdadeiro.
E o que importa isso
para as pessoas que não têm,
como eu tenho,
um anjinho a fazer de candeeiro?
Ou outro corpo celeste
idêntico
a um anjinho mal parido.
Tão bonito que é!
E ilumina, é o engraçado
que tem este candeeiro
angelical.
Uma bonita
figura infantil
com um abajour
na cabeça!
E que posso ligar
a qualquer hora!
Durante o dia,
também o acendo.
Minimiza
os reflexos
da transparência do sol,
quando ele se mostra,
e que entram pela janela,
e se não entrarem, o que
também acontece,
igualmente incomodam,
e é preciso agir,
embora não me apeteça.
Mas tudo
o que se possa fazer
não será  suficiente.
O anjinho não dá luz
que chegue.
É um anjinho falso
de sorriso iluminado
artificialmente,
com aquele grande chapéu
de fluorescência
duvidosa.
Olha...! Acabou de dar sinal.
A luz começou aos soluços
intermitentes,
triste que nem sei,
atenção, milagre!
Era tão evidente
do que se tratava!
Era só
substituir
a puta da lâmpada.








...

Anda, Vamos para casa!
O cão  seguia-a para todo o lado, não era como os gatos, que não se mexiam pela vontade dos outros assim tão facilmente.
Quem a via, todos os dias, o lenço na cabeça ainda à moda antiga, lá da sua aldeia profunda entre as serras, quem a via pensava que plantava bolbos no quintal.
O corpo dobrado, os joelhos no chão e as mãos a moverem-se, lentamente, junto ao solo, todos os dias da semana, do mês ou do ano.
A casita entalada entre os edifícios, sobrevivia, doente, à profusão de prédios altos, a tinta soltava-se em farrapos, caía com o mau tempo, ou no verão por causa do calor abrasador.
As pessoas debruçavam-se das varandas, como os macacos nas árvores, lá para África ou coisa assim. Quem por ali passava com frequência,, também lhe estranhava aquela tarefa de todos os dias, fosse verão ou inverno, chovesse ou fizesse sol.
O avental, sempre o mesmo, tinha um bolso grande, à frente, de onde retirava qualquer coisa para colocar naqueles buracos, mas a sua postura enrolada, com os braços fletidos em meia lua, não permitia  perceber-se o que punha, de facto, dentro da terra, nem era motivo de tanta curiosidade assim. Pensavam eles nas suas vidas, ou em coisa nenhuma, quando olhavam das janelas, onde estavam para fumar um cigarro, numa pausa qualquer.
O cão ajudava, com as patas, a fazer as aberturas. escavava para si. e, às vezes, encontrava algum lixo, como pedaços de vidro já polido pelo tempo, ou restos de jornais, com os acontecimentos desbotados, massacres enterrados, em Chernobyl ou #Tiananmen.
Se alguém se aproximava, perigosamente, ele ia ladrar ao portão, mostrava-lhes os dentes ferozes, e elas afastavam-se porque tinham medo, e ele voltava para o lado da dona, sempre atento à necessidade de proteger aquele espaço.
Ele era a mais importante testemunha, os felinos também viam, mas muito desinteressadamente, de que a mulher escondia um  tesouro incalculável, moeda a moeda, naquele jardim de aparência descuidada, mas quando morresse, se quisessem, e haveriam de o querer porque o dinheiro faz muita falta , era só revolverem o solo, muito superficialmente, sem lhes dar quase trabalho, e encontrariam uma pequena fortuna que haveria, se Deus quisesse, de ajudar a todos.
O cão era inteligente o suficiente para lhes indicar a importância de remexer a terra. Se fosse necessário abocanhava um pedaço das calças de alguém, puxá-lo-ia até a um dos locais secretos , abanaria a cauda e esfregaria a terra com o focinho.
Mas teria que saber escolher,  a pessoa certa. Das que  lá estivessem, visitando a casa vazia, teria de ser o que lhe parecesse mais amigo dos animais, mais generoso, e mais sózinho.










terça-feira, 29 de maio de 2018

#Salsa ou coentros?

As dúvidas descem
três vezes
as mesma escadas
cruzam-se sempre
com os mesmos,
que são todos,
escondidos
nas entrelinhas.
Cada espaço vazio,
por muito pequeno
que seja,
é um ele, uma ela,
uma multidão
que preenche
o buraco
onde morava antes,
o corpo
de uma estrela sem
nome.
Serão.
Um confortável
serão à lareira,
como um aceno
impercetível,
de outras eras,
ou a confirmação
de que
me engano.
Que não
subo e desço,
invariável, e
repetidamente,
a grande inclinação,
o enorme desnível,
com o coração a bater
deseparadamente
acelarado,
e inútil,
só para tentar
agarrar
este poema
de merda.



Salsa




Lembro-me muito bem.
Andava eu, faz muitos anos, a passear de mão dada com a minha avó por entre as barraquinhas da praça, enquanto fazíamos as nossas compras ao mesmo tempo que ela me explicava tudo o que observávamos em redor, devo referir, apenas como complemento, que naquela altura não havia tanta facilidade em operar cataratas  como há agora, mas dizia, ela ia-me ensinando tudo o que podia, dentro das suas limitações, claro, ainda hoje confundo, azeitonas com caganitas de ovelha, e eram, assim, uns primeiros domingos do mês maravilhosamente passados.
Lá dentro havia sempre uma grande algazarra. Toda a gente comprava, vendia ,  falavam uns com os outros,e os vendedores de ervas aromáticas apregoavam os seus produtos:

É a hortelã da ribeira,
é o coentro do juncal,
é o oregão da Lurdes,
é a #salsa do Amaral!

A minha avó, sempre sorridente, perguntava-me nesta altura: " O que é que eles dizem, Minha filha? Não percebi!"
E aquela pergunta, tão inocente e singela, enternecia-me, de tal forma, que várias vezes pedi àquelas senhoras e àqueles senhores, para lhe irem gritar aos ouvidos, só para a ver feliz.
Depois de bem abastecidas de carne, peixe, e legumes para uma semana inteira, voltávamos para casa encurtando caminho pelos pinhais, e eu ia saltitando à sua frente, carregando, alegremente, os sacos por entre as silvas.
Chegadas à tranquilidade do lar, a bondosa velhota dirigia-se para o meu casaco enroladinho e abandonado em cima de uma cadeira, fazia-lhe umas festas e chamava-lhe  Tareco.
Doces memórias.












,










segunda-feira, 28 de maio de 2018

Ruço

A palavra #ruço, ouvi-a muito quando era miúda, lá para cima para a beira alta. Referiam-se as pessoas aos que são louros, ou alourados.
Bem mais tarde, voltei a ouvir essa designação na boca de uma vizinha referindo-se à minha filha mais velha que é na verdade, um bocadino "ruça", e confesso que achei engraçado por ser uma palavra raramente, ou mesmo nunca, ouvida por estas bandas.
Essa senhora vivia no mesmo prédio que eu, um andar abaixo, com o marido e dois filhos pequenos, com idades idênticas às das minhas crianças, e andavam inclusivamente, todos no mesmo colégio.
Soube-se, a determinada altura, que o miúdo mais velho tinha morrido. Constava que tinha sido assassinado, uma história monstruosa que me afetou bastante, mas ninguém sabia pormenores da situação.
Um dia em que o guarda noturno me bateu à porta para receber o pagamento mensal, questionei-o sobre o assunto e ele respondeu-me: "Minha senhora, não se meta nisso."
Por isso, quando ouço esta palavra, associo-a, invariavelmente, a esta história macabra, e é também, por estas e por muitas outras,  que gosto tanto de inventar irrealidades, ou fantasiar o real, para construir à minha volta um mundozinho mais alegre e mais bonito.

domingo, 27 de maio de 2018

Malária

A propósito de #quinino, recordei, na minha cabeça sempre na lua, que a malária  mata que se farta.
Mas também, é em África. bué longe, e nem é em todo o sítio, se calhar por causa disso é que já me tinha esquecido.
Nem me lembro dos números e até já vi estatísticas e porras dessas.
E a modos que é uma doença tratável, parece-me.
Tratável, não, suscetível de tratamento, assim é que é, não vou agora borrar  o texto.
Mudando agora de continente, cá pelo nosso país ainda temos alguns casos. (estes números é que não sei, de todo, e também não tenho verdadeiro e genuíno interesse neles, admito). Depois de devidamente diagnosticadas, as pessoas entram de imediato numa engrenagem complexa, de ajuda, talvez se possa dizer assim, que está preparada para tudo, e ao dispor de todos.
Podem até não ter dinheiro ou, por outro motivo qualquer, não ter direito ao sistema. Para elas, tudo vai funcionar na mesma.
Olha que não sei se concordo... Lol!
Uns a pagarem para os outros? Meu rico dinheirinho!





















sexta-feira, 25 de maio de 2018

pois

Oráculo



Se as nossas vozes
tanto a minha
como a tua,
permanecem
reduzidas a nada,
e consideramos
o silêncio
uma forma
previlegiada
de comunicar,
então,
quem quer que sejas
que acenas de um solo
de guitarra,
ou de qualquer outra
coisa
impalpável, e humana,
aceita este humilde
presente.
Nem por sombras
o verão
me faria, alguma vez
abrir os braços e
libertar a voz
como tu fazes.
É quando vejo
a grandiosidade
do teu génio,
o que tudo inventa
e constroí,
para fazer nascer
uma puta duma bela
duma criação,
a bem dizer,
não mais que,
por exemplo,
meia dúzia de  vigas
de madeira,
inclinadas,
com a largura
do papel
e  o declive
das montanhas,
que, simplesmente,
e, talvez por isso,
a determinado
e preciso momento
começo a encolher,
brutalmente,
e puf!
Desapareço.
.








Oráculo

Um simples gesto denunciou-o. Ninguém punha o dedo no nariz enquanto conversava com os amigos sem ter uma razão muito forte.
Enquanto se espera ao volante de um automóvel num sinal vermelho, ou quando se vê televisão, no relaxe do lar, é normal. Talvez até se considere prática comum, mas quando acompanhadas as pessoas evitam fazê-lo, sobretudo por respeito ao outro.
Ainda para mais que não se tratou de um gesto furtivo, ao de leve, enquanto se gesticula por um motivo qualquer e se passa rapidamente o indicador, em todo o seu comprimento, pelos buracos das narinas. Ao contrário, parecia uma atitude premeditada, como quem vai tomar um comprimido a determinadas horas, tal como o farmacêutico lhe recomendou, e para além de que não foi um toque disfarçado, mas absolutamente assumido, quando enfiou todo o polegar direito pelo nariz acima.
Quem lhe era mais chegado não deixou de sentir uma certa preocupação, não pela gravidade do caso, mas pelo seu inusitado, e acabou por lhe perguntar o motivo de tão estranha atitude, mas a verdade é que existia uma explicação mais que razoável.
Tinha  um #oráculo a viver na epiglote. Só a curvatura daquele dedo, e colocado daquela forma, lhe permitia  chegar a ele, e tinha, segundo indicações médicas, que o fazer a horas certas.
Todos lamentaram a situação e se mostraram disponíveis.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Noite



Sendo já noite cerrada
 e as ruas ainda sem luz
tive que andar à pancada
com uns gajos de capuz.
,
Que #noite desesperada,
onde está a luz do sol?
Nem seca a roupa na corda
e acabou-se-me o sonasol.

Por falar em noite,
em várias páginas
seguidas, do meu livro,
encontrei, facilmente,
uma  dúzia de noites,
algumas, separadas,
apenas,
por duas ou três linhas,
o que é revelador de que
a palavra não cansa.

A propósito de dúzia,
na próxima investida
ao supermercado
não me posso esquecer
dos ovos.










quarta-feira, 23 de maio de 2018

Mini

Agarrou-se ao corrimão com a mão esquerda,
para ver os improváveis papagaios
que, lá em cima, debicavam as flores verdes.
Subiu.
Um fio de inspiração, caía como humidade invisível,
dir-se-ia suspenso, mas não estava.
Bastava olhar em redor, para as casas, para os telhados,
e perceber o circuito das caleiras,
ouvir o seu interior, acumulado,
a sussurrar sons líquidos, guardados
dentro de um tubo de pvc, ou outro material qualquer,
mais eficaz e inovador.
Era o parque dos estudiosos, e dos imaginativos,
que carregavam consigo os livros e os computadores.
E maçãs. Tem tudo a ver com maçãs porque
tinham que comprar uma antes de entrar,
ERA A NORMA!
E era, também, o preço do ingresso, para ver o poço dos amores.
Quando chegou, nesse preciso momento,
as aves agarravam com o bico as flores cor de rosa,
pintadas do tom verdadeiro, menos trágico, mais real, e mais belo,
e, com três ou quatro movimentos do maxilar
(será que os pássaros têm maxilar? Não me parece),
comiam o ponto amarelo que lhes interessava
e deitavam fora todas as outras cores.
No chão  #mini bolinhas de criatividade, que os pássaros cuspiam
(será que os pássaros cospem? Duvido), e ervas pisadas,
sobrepunham-se, intoleravelmente,
à presença dos homens e das mulheres.
Os  papagaios eram os protagonistas. Lindos! Verdes!
Após a ingestão da maçã,
Tem a ver com um certa  durabilidade do açucar
no sangue, acho eu,
e da observação caótica da paz que o cercava,
agarrou-se ao o corrimão com a mão esquerda,
não..., com a direita, não..., com as duas,
agarrou-se ao corrimão com as duas mãos imperfeitas,
mas desta vez para descer.




















terça-feira, 22 de maio de 2018

Lisboa

Como alguns saberão, o meu quotidino faz-se entre #Lisboa e Sintra.
Apesar da insistência de alguns familiares, nunca saírei daqui, que eu não deixo os meus plátanos húmidos nem por nada.
Entre esta vila e esta cidade, ambas majestosas e cheias de encanto, percorre-se um caminho de subúrbios absolutamente horrível,  que não vejo porque aproveito para viajar pelos meus livros.
Desde que me conheço, que formulo uma discussão fictícia dentro da minha cabeça. Questionam-se entre si, as belas, e já o tenho escrito, qual de nós as duas é que é a mais bonita?
A mim fascinam-me as cidades com gaivotas, os seus gritos a ecoarem na cidade ainda adormecida.
A mim fascina-me o musgo silencioso, as pedras ancestrais, o verde mágico da água.
Que disparate, o meu, o verde mágico da água, dentro dos túneis verdes, dentro do meu coração!
Bem podem discutir, porque se separaram de mim e já discutem sózinhas, e eu, que as ouço, sem poder agora intervir, sei que, mesmo depois de eu desaparecer por completo, não chegarão nunca a conclusão nenhuma,







segunda-feira, 21 de maio de 2018

Krill II

Desviou a cortina. Chovia desalmadamente. Os carros passavam na rua e os condutores mais incautos rolavam as rodas nas poças e molhavam, com tiros certeiros, de água acinzentada, os transeuntes, que se aborreciam com essa falta de cuidado.
As aves, habitualmente caladas, embora escondidas nas varetas dos guarda-chuvas, não paravam de cantar.
Abriu uma fresta da janela, e à conta disso isso molhou as mãos e o rosto, ficou com pingos nos óculos, só para as poder ouvir, e, após minutos de infinita e líquida paciência, lá se definiram, as vozes, um pouco por todo o lado.
Eram os animaizinhos que cantavam: "#Krill, krill!", nos ouvidos das pessoas.
Viam-se estudantes apressados, muito rápidos, as pernas longas a galgar os passeios como se não houvesse amanhã,  mães e pais dedicados, com os miúdos pelas mãos, para trás e para a frente, e um saco que alguém deixou caír, amarfanhado no chão,
Cruzavam-se todos em múltiplas linhas. De água, evidentemente. Topava-se tudo bem melhor de lá de cima.
Quando,  mais tarde, a chuva parou, repentinamente. e deixou de se ouvir, por completo, porque antes caía em bátegas barulhentas e aflitivas, abriu o bom tempo. e o velhote   saíu daquela casa, cheia de  lixo letárgico, e de móveis sujos, e desceu as escadas safadas para apreciar o sol. Tinha o tempo todo do mundo.


Krill

Guendoline ou Guinevere,
já nem me lembro bem do nome dela,
sei que pôs os palitos ao rei Artur,
reza a lenda,
com o melhor amigo de ambos,
e sofreram muito por causa disso.
É normal.
 (Krill..., não..., aqui fica mal)
Margarita voava,
ensinada pelo seu mestre,
já nem me lembro se tinha
uma vassoura, ou coisa assim,
sei que lá estava na imaginação
do seu criador,
e que resvalou cá para o meu lado,
sentando-se,
e aqui ficou, na conversa
com as suas amigas prediletas.
Também o sr. Heep,
nome deveras difícil
para o linguajar português,
também esse,
independentemente do nome,
( #Krill..., não..., não tem nada a ver)
ficarei a odiar, nem, tão depressa,
ou mesmo nunca,
me vou esquecer dele,
por causa daquela humildade nojenta,
e do seu caráter vil.
E o D. Quixote, reparei há pouco
como é tão pouco alucinado
com os seus  moinhos de vento.
monstros verdadeiros em movimento.
Bem hajas pela tua clarividência,
avôzinho!
(Krill..., nem pensar)
Os passos de Paul Auster
ressoaram, durante muito tempo,
anos, mesmo,
na bela calçada,
entre o jardim e a Embaixada.
mas não tive tempo
de lhe mostrar a cidade.
E Maga? Tu, Maga que devias ser
conhecida de todos
e não és? Porquê?
Deixa. Ficas comigo.
nas minhas instalações, que albergam
os corações das palavras pequenas.
Riscos de tinta.











domingo, 20 de maio de 2018

..




A máquina cortou a palha,
nem dei por isso.
nem ela sabia tudo,
mas funcionava
como um complemento,
indisciplinado até ao fim.
Não tinha importância,
a jangada tinha
um banquito
onde ela se sentava,
e adorava, adorava!
O velho computador
servia bem.
Não sabia tudo,
mas funcionava
como um complemento,
indisciplinado até ao fim.
A máquina cortou a palha...


Já viste?
Hoje em dia, há marcas de jangadas de grande qualidade.
Mesmo em segunda mão já se compra uma jeitosa.
Às vezes vê-se cada beleza que a pessoa pensa:
Afinal ainda há quem tenha dinheiro, neste mar!
Mesmo os pinguins e as orcas andam mais bem arreados agora.
Percebe-se que há mais dinheiro a circular.
Desde a morte do Neptuno que a coisa corre melhor.
Quantos braços tinham os polvos aqui há uns anos atrás?
Não, não respondas que eu sei.
Dois, no máximo três. Já vão para aí em oito, vê lá!
E viste aqueles carapaus  que passaram por nós?
Muito mais rápidos!
É verdade, já leste "Uma #Jangada no Mar do Norte"?
Estava à espera de melhor.
Não queres ir lá acima espreitar a Terra?
Está super húmido mas levamos os casacos.
Então? Só eu é que falo?




























sexta-feira, 18 de maio de 2018

Herbário

Foi uma chatice quando tentei fazer um #herbário.
Tive que separar as folhas de alho francês e de couves de bruxelas para um lado, e as de couve portuguesa e couve galega para outro, porque, todas juntas, não se entendiam, por causa da língua.
Mesmo assim, separadas por páginas, era uma algazarra insuportável.
Acabei por pegar naquilo tudo e fazer uma sopa.
Não sem antes ir buscar ao #chouriçário uma rodela  de paio York (mais problemas de comunicação), para dar gosto.
Agora tenho só um aquário com peixinhos dourados, para me entreter, porque, para além de não falarem, ainda me dão a ideia de que sou rica e poderosa, por causa da cor.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Gaza

Estava eu a pensar
em como gosto de esticar
os braços bem nutridos
e peludos,
para a primeira garrafa
de vinho,da refeição
ouvir as notícias inconcebíveis
na televisão
a realidade, bem aconchegada,
cabe, afinal,
na palma da minha mão.

Estava eu a pensar
essas patetices, quando
alguém me perguntou as horas
"Que horas são?"
e eu virei os olhos, a cabeça,
o pescoço, tudo!
para procurar no pulso
distraída, mas amavelmente,
o relógio que não uso,
mas que marca o tempo,
inexoravelmente, por esse mundo,
e o justifica, numa linguagem
tão simples
um, dois, três, quatro...







terça-feira, 15 de maio de 2018

Eurovisão


Estava eu sentada num banco de jardim, quando uma estátua se pôs a conversar comigo.
Até aqui, tudo certo. Não é novidade para ninguém, já têm aparecido estátuas falantes noutros sítios, mas, o  que se tornou de facto fora do comum,  foi a insistência dela em querer ver, ao vivo, o festival da #Eurovisão.
A sua tristeza era tão genuína que me comoveu, e por isso, enrolei-a num cobertor que tinha dentro do carro, sentei-a o melhor que pude no banco da frente, e lá fomos nós.
Mas, infelizmente, não chegámos ao nosso destino
Ao princípio fomos conversando, embora eu não seja muito de conversas, mas ela era muito sabedora e bem falante, e isso é,evidentemente, um fator muito agradável.
Ainda a avisei: "Já sabes, polícias e seguranças, não dizes nada. Eu é que falo, para eles não desconfiarem!".
Pelo caminho, e no decorrer da conversa, comecei a aperceber-me do erro que tinha cometido.
O estúpido do Vasco da Gama, ou lá o que era aquilo, não se calava, e após algum tempo de reflexão sobre o que se deve, ou não, fazer para agir corretamente, larguei-o na primeira mata que encontrei.
Ele que se entretenha a assustar as pessoas que por ali passam, que seria a atitude de qualquer um no lugar dele, e se deixe de lamechices  e solidões.
Só me fez gastar gasolina.








segunda-feira, 14 de maio de 2018

...

Tinha coisas importantes no bolso, para entregar, já nem sei o quê, e não conseguia, perdia-me naquele labirínto, com entradas e saídas para o exterior, tanto que várias vezes passei pelo barzinho, com a sua montra arrumada e colorida, num canto interior do edifício, desci o mesmo lance de escadas vezes sem conta, As portas iam-se fechando, ficando só duas  ou três delas abertas, por um questão de segurança.  naquelas horas equidistantes entre as duas pontas da noite.
O grande tampo vermelho da receção, quantas vezes contornei a sua forma oval, de arestas redondas.
A horas indefinidas. Por uma questão de segurança ficam apenas algumas, poucas, abertas.
Volto, uma vez mais, a passar no mesmo sítio. Todos me dão indicações corretas, que sigo à risca, mas, não sou mesmo capaz de encontrar o caminho certo, um caminho que devia conhecer de olhos fechados, porque segundo me foi dado a perceber,  é lá que é o meu local de trabalho. Uma sala para onde vou todos os dias.


O #Delgado,
é malcriado.
o Balofo,
é fofo,
e o Ribeiro,
é certeiro
O António,
por sua vez,
é um nónio,
e o Cortês
é uma peça
de xadrez,
ou, explicado
de outra forma,
um cavalo.
O Serafim,
mais dado
ao frenesim
é um berbequim,
e tem uma
amante,
que é um elefante,
muito elegante,
e, por agora,
chega.


As portas iam-se fechando ao longo da noite, por uma questão de segurança, e a ervilhinha perdeu-se no meio daquele labirinto
Desceu a mesma escada vezes sem conta, reconheceu várias vezes a montra colorida do barzito a um canto, no interioir do edifício, pediu indicações a várias pessoas e elas eram prestáveis, e ensinavalham-lhe, mais ou menos detalhadamente, o caminho certo. Pelo caminho, cometia qualquer erro, de forma que via múltiplas vezes o tampo elho da receção, de arestas redondas para as crianças não se magoarem, com as suas cabeças pequenas ao nível dos cantos e das arestas.





















domingo, 13 de maio de 2018

A sul



Três segundos de #carreira
para uma vida inteira a contar  colinas
aproveitando os cinco ou dez minutos
da ponte branca sobre o rio azul.
Esse rio imenso.
Cada cidade tem o seu rio imenso
de recordações,
Fixo no aço das pontes vermelhas,
 e nas sombras que escasseiam
com o sol a morrer pela tarde.
Todas as cidades velhas
misturam pedaços soltos,
desfeitos, mais tarde, na espuma.
Contei quatro, através
dos vidros insonorizados
do automóvel azul,
nos cinco ou dez minutos
que estive na ponte branca
sobre aquela água.
Contei as colinas possíveis sobre o metal
altíssimo e transparente,
Sobre o rio imenso.
São cidades como as gaivotas
gritando, de manhã bem cedo,
e o seu lamento a ecoar
na calçada  molhada,
com a chuva a cair, porventura,
também ali ao lado, no mar.









.






sexta-feira, 11 de maio de 2018

Amélia


Pode, até, ser um  corpo que observamos,
atentos aos gestos habituais da criatura,
mínimos, repetidos sabe-se lá quantas centenas de vezes,
como aquele seu velho hábito
de empurrar os óculos para cima com o indicador da mão direita,
o dedo espetado, com a unha comprida e vermelha.
(Aviso para os perigos da possibilidade  da #Amélia de ser uma invenção).
Também dava um bom nome para  formiga,
a viver no alto de uma cidade soberba,
com as suas amigas, sempre a trabalhar,
ou daquelas que sobem e descem as ladeiras de uma aldeia qualquer,
ou  sobem e descem as paredes de um prédio rústico,
ao lado das plantas que trepam as ruínas
daquilo que é uma casa a morrer.
Amélia levou os seus cães a passear às dezoito e quarenta,
dez minutos depois de chegar a casa.
Amélia também, é necessário sublinhá-lo,
naquela sua forma impossível, era só mais uma.
Os filhos da Amélia, dessa Amélia,
que imaginamos em determinado lugar,
será a que bebe um café ao balcão de uma pastelaria,
num subúrbio qualquer,
ou uma que ordenha  a vaca de leite,
ou outra, ainda,
a mulher que dá de mamar aos seus filhos,
ou até pode ser o próprio animal,
porque também é um belo nome para uma vaca mãe de vitelos,
ou, e isso já é lamentável,
uma terceira Amélia os corta os vitelos às fatias
para uma  quarta Amélia comer.
Amélia é uma invenção, insisto,
É quase uma imagem que chora numa banda desenhada,
com as cores preenchidas numa perfeição irreal,
e não tem duzentos anos de sonhos inconscientes,
porque ninguém anda por cá tanto tempo!
Também podia ser a Amélia tonta,
esparramada sobre o balcão,
ai os olhos daquela Amélia,  húmidos da cerveja, encantadores!
Ou alguém inconsciente, que acabou de perder os sentidos
e em frações de segundo, foge-lhe a identidade, a essa Amélia,
personagem de um filme policial.












quinta-feira, 10 de maio de 2018

Zoroastro


Foi #Zoroastro, o filho da mãe, que colocou aquela gente toda em Sintra.
Que triste. Acabaram-se os passeios mágicos, o verde silencioso...
A curva do duche, a mais bonita curva do mundo, já não vês nada.
Estás preocupado em conseguir dar uns passos por entre a multidão.
Há-de haver alguma coisa que eu possa fazer.
Bombinhas de mau cheiro, para começar,
Tanto no recinto  da estação, como dentro do comboio.
E hei-de arranjar mais coisas.


z




Já nem voavam há largas
horas,
as abelhas, sobre as zínias
dos canteiros ali em frente.

Talvez devido à poluição.
 Foi quando, uns pés de vento,
inusitados,
nasceram, espontâneos, do chão.

E puseram as folhas, caídas,
a rodar em movimentos
concêntricos,
indiferentes ao que se
passava
e obrigaram, muito
maldosamente,
as árvores a deixarem
tombar as suas hastes
mais pesadas,

"És um monstro, #Zoroastro!"
bichanavam os objetos
de dentro da montra
onde eu estava encostada.

Insuportáveis,
tentando induzir-me à maldade,
a altas horas da madrugada.

E não se calavam, agitados,
por causa do medo. estampado,
porque o medo, por vezes,
se estampa nas caras
da bonecada.












quarta-feira, 9 de maio de 2018

...Yoritomo


Acabo de iniciar uma conversa, uma súplica, um monólogo, tudo de uma só vez:
"Deuses, porque me retirasteis a imaginação em dia de #Yoritomo?
Porque me fizesteis escrever (não é utilizando uma qualquer forma verbal, corriqueira, que imploro aos deuses)  coisas completamente estúpidas, sem sentido nenhum, historiazinhas de merda, tal como aquela que inventei há umas horas e cujo resultado final estava de vómitos?
Onde está o interesse na triste vida daquela criatura, um serzinho minúsculo, semelhante a um bicho comedor de papel? Dei pela sua existência porque o vi a brilhar numa nesga de sol que entrava no quarto. Fazia ali umas cambalhotas, aproveitando a sua própria leveza, e a grande densidade do ar. Parecia brincar numa cama elástica. Depois voltava rapidamente para o meio dos livros.
Visteis isto, deuses? Contasteis com isto, deuses? Com filhos humanos a escreverem histórias idiotas?
Contasteis?
Por muito subtil que seja, pode ser uma  caixa de porcelana a cair sem ninguém lhe tocar e a escaqueirar-se contra o chão, ou um dos meus gatos começar a falar um castelhano perfeito, ou alguém  atacar-me arremessando contra mim cápsulas da nexpresso, qualquer coisa, mas, deuses, agradeço uma resposta!"




















terça-feira, 8 de maio de 2018

Xairel


.




A mim, o que me fazia confusão no sr. Almeida, é que não o via comer nada o dia inteiro.
Só bebia.
Aparecia, logo muito cedo, acompanhado do seu garrafão de vinho, e sorria-me, com um sorriso sem dentes, sempre que passava por ele.
Enquanto a minha avó conversava sobre a festa da aldeia que andavam a preparar para essa noite, nem  sei se é uma aldeia, pois não consta, sequer, do mapa, eu entretinha-me a ver o movimento circular das caudas dos bois para afastarem as moscas.
 Depois de três longos meses passados naquele paraíso terrestre, de aves canoras e cães pachorrentos, deitados ao sol, parecia-me aquele mexer contínuo, com os insetos a fugirem e a voltarem ao mesmo sítio, um verdadeiro filme de ação.
Á noite saíamos de casa, com o nosso fraco entusiasmo por festas da aldeia:
 "Não deves passar mais do que seis horas por dia a ler. Dizem, que não faz nada bem à cabeça."
Houve derminados anos em que lhe pedi para me deixar utilizar um pouco de terra para fazer as minhas próprias culturas.
Então, lá ia, todos os fins de tarde, verificar o crescimento das alfaces, mas claro, de um dia para o outro não se topa nada.
 Nem é forma de passar o tempo, esperar que as coisas cresçam à minha frente.
Havia papelinhos coloridos suspensos entre os telhados das casas e o telhado da capela, e a música saía roufenha das instalações sobre a mesa.
Xailes e #xaireís cobriam as costas curvadas das velhas.









domingo, 6 de maio de 2018

Vertigem

"É o dia da mãe de quem?"
Perguntava ela à avó,
insistentemente.
"És muit`a ranhosa!
Gozas com tudo!
Havia de te dar
uma #vertigem
que visses tudo escuro!
Igualzinha à mãe do teu pai.
Sem tirar nem pôr!
Sempre a moer-me o juízo!
Coitada da minha filha!
Também teve uma rica vida,
deixa estar.
Cada um tem o que merece.
E tu és igual!
Quando se põem a olhar
com essas caras...,
está tudo estragado
Quem é que andou a pôr
pregos
na cama do teu irmão? Han?
Pois..., mentirosa,
ainda por cima!"











v




,
Já a palavra flui,
em redor de uma
cabeça  tonta
e nada de
#vertigens,
ou isso,
mas, mas, mas,
ainda  falta muito,
para o fim,
praticamente tudo,
e o que os piolhos,
sentiram,
nessa altura,
foi naúseas,
mais nada!
Isso é que foi!
Não vou mentir.
E rio-me,
rio-me tanto
qua já vou avisando,
alguns caíram
do penteado
sobre o teclado.
















sábado, 5 de maio de 2018

Útero II






Não nos dá
alternativa.
Ele, é o muito
merecidamente
elogiado
#útero.
Enquanto
vai soltando
palavras púrpura
das rochas,
para nós ouvirmos,
permite-nos,
simultaneamente,
sentir, com nitidez,
pequenos toques
de calcanhar,
movimentos
milagrosos de
pernas,
muito mais do que
impossíveis, e,
pelo menos
teoricamente,
provenientes do
fundo incandescente
da terra.














.




Útero

Não foi nada bonito.
No meio de um caso complicadìssimo, e em plena autópsia para estudo e recolha de provas, deu-lhe com o #útero do cadáver no ombro.
Assim, três toquezinhos, sem força.
O profissionalismo, por um lado, e o respeito pela hierarquia, por outro,obrigou-o a não se manifestar perante aquele comportamento. e por isso, imediatamente a seguir  falou como se não tivesse entendido a ameaça velada do chefe.
Delicado como era em qualquer ocasião, apenas lhe perguntou:
"Tem um bocadinho de placenta nos óculos. Quer que limpe?"
E, sem dar tempo ao outro para responder, tirou-lhe os óculos com uma pinça própria.









quarta-feira, 2 de maio de 2018

#Scarlatti,

Mantinha-se viva.
Perdurava.
Entre ciprestes e carvalhos
e as begónias
de folhas luxuriantes
dentro daquela casa.
Ao fundo, a neve
no velho cume
da serra.
As begónias permanecem
dentro da casa que perdura,
e, lá fora,
e as flores perdidas no matagal,
de ervas verdes
e brilhantes,
eram magnólias.


Nem tudo está perdido
Posso salvar
as begónias
de folhas luxuriantes
pegam tão facilmente,
dentro das casas,
onde perduram,
e enormes ciprestes,
carvalhos descontrolados,
portas caídas,


Begónias dentro
de casa,
a fazer a casa existir,
por elas.
Plantas luxuriantes,
pegam tão facilmente,
basta colocar  uma
folha em água
e criam raízes,
para originarem
mais tarde
uma bela planta
imortal.

Pois farei por elas o
mesmo que farei
pelos livros,
vivos,
entre as paredes de pedra
e a neve da serra velha.

Ciprestes enviosados,
pássaros noturnos,
enormes.
sombras antigas.
Carvalhos, descontrolados,
não conseguindo partir
as paredes de pedra,
entraram pelo telhado.

No matagal imenso
sobrevive, ainda, com
sérias dificuldades,
#Scarlatti,
uma magnólia perdida.