segunda-feira, 17 de maio de 2021

Satie

À procura da sorte num trevo de quatro folhas, 
vê lá se voas para onde voaram as frésias no verão passado, 
como certas palavras que fazemos nossas, dê lá por onde der, 
para nos fazerem companhia para o resto da vida.
Tinha por mais do que uma vez, observado várias movimentações. 
Contudo os cenários e os personagens mudavam de tal forma,
que era como se habitasse mil casas, ou mais, 
ou lutasse por encontrar a "cor", uma cor especial
no espacial que determina o céu, 
sei lá eu o que estou a fazer.
Bastas vezes, vira mulheres silenciosas
a deslocarem-se de um lado para o outro, 
todas diferentes e caladas, 
entravam e saíam por portas inventadas, 
enquanto preguiçosamente as previa,
podia ser a meteorologia qualquer uma, 
tanto fazia calor e luz, como o nevoeiro 
agarrado ao entardecer com unhas e dentes, 
ou uma noite um pouco mais brilhante do que as outras, 
ou essa mesma noite morrendo no orvalho da manhã.
Dobravam a esquina, presumo,
já só as via quando estavam à minha frente, 
dando-se assim a conhecer, sempre do outro lado da estrada, 
debaixo da lona de um toldo,
o local onde mais as ervas tendem a invadir o passeio.
Os gatos, essas fantásticas  e enigmáticas criaturas, 
estão por todo lado. 
Quantas vezes aparecem sem aviso prévio, 
controlando o que não  se vê, 
sólidos e harmoniosos, menos na areia, 
os gatos não gostam dela,
deitam-se nos catos das dunas, que vejo daqui, 
da minha janela, e estendem-se ao sol.
As árvores existem, 
obviamente nuas umas vezes, quase nunca, 
mas são, contudo, as mais rápidas e eficazes
a desaparecer, 
para serem recolocadas noutro sítio, numa daquelas serras 
em que se respiram umas às outras 
provocando frescura, 
e onde velhos plátanos, pela primavera,
revivem o entusiasmo juvenil.
Não era que os adorasse mais que tudo, mas queria-os para mim, 
isso era certo,
as palavras, as mulheres do outro lado da estrada, as árvores, os gatos,
os trevos.








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