Chamava a atenção
porque usava sempre um chapéu de coco.
Não falava com ninguém,
não entrava nas lojas, no café,
ou noutro qualquer estabelecimento,
nunca alguém o tinha visto
trocar uma palavra
com quem quer que fosse.
Nem um "bom dia",
ou "boa tarde", um desculpe,
um "com sua licença".
Só de vez em quando
passava,
a chamar a atenção
por causa do chapéu de coco.
Quando me cruzava com ele,
fazia-lhe o meu habitual sorriso.
Passava por mim e sorria-me
daquela maneira,
enigmática e estranha.
Diria, até, um pouco assustadora.
Não tenho interesse em conhecer ninguém,
ou falar com eles, ou sequer cumprimentá-los,
porque todos têm esse tipo de sorriso,
que me deixa desconfortável.
Tirou os óculos escuros
da frente dos olhos,
e ficou a mordiscar
uma das suas #hastes,
enquanto pensava
na resposta que haveria de me dar.
"Também vês o homem do chapéu de coco?"
Tinha-lhe perguntado
a meio de outra conversa qualquer.
Voltou a colocar os óculos
sem me responder.
Seguiu o seu caminho, pelo passeio,
debaixo das tílias,
Sei muito bem para onde se dirigia.
Para a ponte,
essa que subsistia
de um dos meus últimos sonhos.
O homem tirou o chapéu pela primeira vez.
Estava no cimo da ponte,
e pousou-o por ali,
sobre o metálico vermelho,
o preto do chapéu a contrastar, com o azul
da água e do céu.
Afinal era tão simples
Encontrei-o nesse preciso momento.
E fiquei contente, porque nunca
o tinha visto assim.
E fiz-lhe um sorriso como sempre.
De passagem.
Estava com pressa.
Perseguia a mulher dos óculos escuros
que vira ao longe,
passar por ali,
a sua silhueta bem defenida,
entre o metálico vermelho
da ponte, e eu longe
para a alcançar,
para lhe perguntar:
Também o viste? Olha o chapéu
pousado ali!
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