quarta-feira, 18 de julho de 2018

Sem Título




Entrámos  na mesma
estação.
Sentei-me à sua frente
e encetei conversa
sem a conhecer,
como faço sempre.

"Não se esforce
demasiado
nessa  tentativa
desesperada
de pôr delicadeza
nas coisas.

Largou a  revista
no colo
e #Nelson_Mandela
ficou a sorrir-me
da página
vinte e três.


Dê-me licença:
Abri-lhe
a palma
da mão
e segurei-lhe
na ponta
dos dedos.

Olhei para aqueles
traços cruzados,
dos quais nada
percebia,
nem precisava,
tinha virados para
mim
os seus olhos tristes
e eloquentes.

Continuei a farsa,
o logro:
Esta é a da vida,
esta a do amor,
e aqui, este ponto,
indefinido,
é o vértice que
falta,
e que, em perspetiva,
será talvez o quê?
 A anunciação
do fim, pode ser...

E fixei-a, para lhe
pressentir
os lábios a tremer,
e observar o inevitável
efeito borboleta
que faria estremecer
o seu mundo
transparente.

Nem dávamos
pela paisagem
que passava
fora do comboio
em movimento.










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