sexta-feira, 20 de julho de 2018

Sansão

O dia começou com o sol da manhã espalhado pela mesa do pequeno almoço.
Antes de sair foi espreitar a avó, que, dormitava, tranquila, sentada com a testa encostada à parede e o queixo a roçar o vidro da janela
De quando em vez abria a boca e dela saíam bolas de sabão, leves, que subiam direitinhas e iam rebentar no teto.
Houve uma  que  ficou presa tempo demais nos seus lábios.
Foi enchendo e esvaziando conforme  a sua respiração, ficou enorme e mais pequena várias vezes, até que lhe  explodiu na cara, provocando um chuvisco fraco e  refrescante que lhe pingou os óculos.
Esse incidente fê-la abrir os olhos, por momentos.
Remexeu-se um pouco e voltou a adormecer.
Não fosse o diabo tecê-las, ainda preparou, muito à pressa, mais uma mistura de água com detergente.
Agitou a garrafa, e entornou um pouco do conteúdo para um copo, que colocou ao lado da cadeira de baloiço, em cima da mesa de apoio.
Escreveu num papel o recado do costume.
"Bebe pelo nariz. Não te esqueças. Adoro-te."
Prendeu um canto da folha debaixo do copo, para que não voasse com o cão a passar, o que sempre provoca algum movimento, deu-lhe quatro beijos na testa enrugada e saíu de casa.
Pelo caminho encontrou a tia Augusta, que já não via há algum um tempo. "Que lindo bigode, minha tia, fica-te bem!"
 "És um querido #Sansão. Um querido! E olha... " disse, ao retirar o olho direito para mostrar, orgulhosa, tratar-se de um olho de peixe. "É fresquíssimo!"
Folgo muito em ver-te bem, tia. A avó ou está a dormir, ou a apitar ou a bater palmas. Tenho saudades das suas histórias, de quando voava por esses campos fora... "
A tia Augusta tirou várias coisas da mala até encontrar o que queria. Toma. Usa este. Vais ver que é bom" e abriu-lhe a palma da mão, onde colocou uma pastilha para a máquina da louça.
Que ricas manhãs, as que começam com o sol espalhado por aí.
















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