Para além dos insetos nada mais se ouvia naquela noite.
Estávamos lá.
Conseguimos, finalmente, agarrar com firmeza o cenário das horas seguintes.
Era um local aparentemente familiar, sim, frequentemente lá passávamos, a rasar o portão velho com as nossas malas.
No inverno, em que áquela hora era noite cerrada, o amarelado do clarão das lâmpadas dos candeeiros, espetados na beira da estrada, ou um luar mortiço mais que longínquo, eram as suas únicas fonte de luz.
Foi a curiosidade que nos impeliu a visitá-la..
Esperámos uma hora discreta, rondando um pouco pelo passeio, e, quando achámos oportuno, saltámos o muro.
A porta abriu ao primeiro safanão, uma porta com restos de relevos na madeira, geometrias perdidas pelo tempo das chuvas ou, no verão, pelo sol direto e quente a bater de chapa.
Era ele que lascava a sua tinta indefinida, de cor irreconhecível e as letras de um nome que eu gostava de ter lido.
A sua deterioração tornou-me essa tarefa impossível.
Entrámos.
Os quartos, o teto a cair, com um grande buraco a um canto, a antiga chaminé da cozinha, começaram a falar connosco, todos ao mesmo tempo, mas sem pronunciarem palavras de nenhuma língua conhecida.
Bichanavam outra coisa qualquer.
Mantivémo-nos por lá, uma hora ou duas, talvez mais, ouvindo-os.
Depois saímos.
O portão chiou de tal forma que os morcegos levantaram vôo, por entre as árvores e por entre os telhados.
Ouvimos o ruído seco e desgostoso das suas asas.
Depois de andarmos uns passos, olhámos, a medo, para trás.
Tudo tinha desaparecido.
Menos o caixote do #lixo, que se mantinha, no seu discreto tom encarniçado.
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