sexta-feira, 20 de março de 2020

Uma Mulher Velha

Hesitei em tentar descrever aquela mulher velha, sentada muito direita à mesa do café, sózinha, sem companheiro, ou porque nunca o teve, ou porque de alguma forma já o perdeu, ou sem filhos e amigos disponíveis.
Parecia uma esfinge de olhar vago, como se as esfinges estivessem vivas, a olhar.
O rapaz acabou o seu turno, passou por ela, já sem a roupa de trabalho, despediu-se familiarmente, "até amanhã, dona B", e ela aproveitou o momento para se agarrar a qualquer coisa de caloroso, para estabelecer uma ponte sobre aquele rio de solidão onde suspeito que estivesse mergulhada, imersa debaixo dos tantos anos que já viveu, as décadas que passaram desde que foi um #bebé nos braços de alguém.
_Até amanhã, Filipe, até amanhã!_
O tempo a passar, o tempo a passar...

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