sexta-feira, 20 de março de 2020

Donativo

A palavra de hoje remete-me para a minha infância.
Teria eu uns seis, sete anos quando acolhemos em nossa casa um índio da tribo dos caiapós que andava perdido na Av. da Liberdade, em Lisboa.
Era uma pessoa muito simpática muito embora, para mim que era uma criança, tivesse uns hábito estranhos, tais como dormir no telhado e falar com o cão com uma empatia que eu nunca tinha observado.
Depois das refeições, sentava-se numa poltrona não sem antes pousar os seus pertences, a lança, a grinalda de penas e os lenços de papel que adquiriu já na cidade, sobre o aparador.
Eu, curiosa como todas as crianças, tentava mexer nas suas coisas, fascinada sobretudo com as cores intensas daquelas penas a lembrar vivamente os pássaros das florestas tropicais.
Lembro-me bem da minha mãe, que sempre respeitou toda a gente, estar constantemente a ralhar comigo.
Esticava o dedo e fazia um ar muito zangado, para me dizer: 
"Não mexas que isso é #donativo!"
E eu limitava-me a olhar, encantada.

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