quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Um Dia de Férias

A Dona Amália nunca tinha andado de descapotável.
Quando a sobrinha a foi buscar para um dia bem passado não imaginou que, com a força produzida pela deslocação do ar, com a qual não contava, acabasse por perder, primeiro o chapéu que tinha posto na cabeça, e, uns quilómetros mais tarde, o lenço que trazia ao pescoço e que tão cuidadosamnete tinha ajeitado em frente ao espelho.
Imediatamente atrás delas vinha um homem a conduzir distraidamente a sua moto.
A sobrinha, que se agarrava ao volante com perícia, ao olhar pelo retrovisor apercebeu-se do que estava a acontecer à sua tia, velhota, sentada no banco de trás.
Por força da sua maneira de ser, bondosa, mas ao mesmo tempo brincalhona e irrequieta, ao invés de travar, acelerou para ver se lhe voava mais alguma coisa, com o intuito de se rir um pouco e tornar a viagem mais agradável, e, de facto, ainda lhe fugiram os óculos de sol, dois colares de missangas, e os dentes da frente que havia muito se estavam a querer soltar da placa.
O que a rapariga não previu, porque se o tivesse previsto a sua natureza caridosa não teria permitido aquela singela brincadeira, foi que ao chegar ao lar das irmâs Clementinas, para que a senhora retomasse o seu quotidiano tranquilo, elas não a reconhecessem por se encontrar completamente transfigurada.
Obviamente que lhe vedaram a entrada o que obrigou Camilita a deixar a tia Amália  sentada nos degraus em frente à porta principal, enquanto fazia a via rápida em sentido contrário na esperança de recolher as suas coisas.
Não teve que percorrer muitos metros para encontrar o simpático motoqueiro, que, ao aperceber-se da situação, tinha recolhido num saco todos os pertences da senhora incluindo um velho pneu rebentado que estava na beira da estrada, e que nem sequer era dela.
Ajudando-se mutuamente, reconstituiram-na o melhor que puderam, voltaram a tocar à campaínha, e aí sim, as irmãs Clementinas a receberam com todo o carinho.





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