terça-feira, 28 de agosto de 2018

Quase um #postal_de_férias

Fazia dias que se sentava na sua mesa de trabalho, sentava-se na respetiva cadeira, evidentemente, para bom entendedor meia palavra basta, não é preciso dar-mos sempre às palavras, ou às frases, o seu exato significado, mas dizia, sentava-se, olhava para dentro de si , com a esperança de ver alguma história nova a passar pelos caminhos habituais,  por entre as células cinzentas do cérebro, ou por vezes, em reentrâncias menos óbvias, trilhos situados, quem imaginaria, nos músculos dos olhos azuis,  nunca utilizo a designação "estória", embirro, muito por culpa da Carochinha, mas já me vou perdendo outra vez, contava eu, que ele se sentava, com algum entusiasmo, era um entusiasta, para caçar uma narrativa qualquer, um ambiente novo com criaturas acabadinhas de cozinhar, saindo do forno, suculentas, era só necessária  a paciência de esperar um pouco por estarem demasiado quentes, mas valia a pena a espera porque ficavam doces e estaladiças, meus deuses, perdi novamente o fio à meada, a dura verdade é que não acontecia nada na sua cabeça, apenas rodavam colagens de filmes e livros já existentes.
Foi então que se lembrou, teve uma epifânea, uma epitáfia, um epigástrica qualquer, pensou que podia, talvez, ser ele o personagem principal, reinventado, ou até um dos secundários, bem sabemos que, não raramente, são eles que nos ocupam grande parte da memória.


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