sábado, 11 de agosto de 2018

Foi ( Era um #postal_de_férias)

Foi apanhado no delírio, e foi com a barriga farta,
e foi com as folhas verdes sobre a pança,
o vento era tanto,
e enquanto as pessoas circulavam, elas, curiosamente,
nem se mexiam,  como se não existissem
ou nunca tivessem sido escritas.

Foi depois de ter estado numa grande festa,
que lhe deu a solipampa, o fanico,
deitarem-no num banco de jardim, e chegou ao fim,
como chegam todas as vidas ao fim, já sem lembrança
dos morros inacessíveis e  dos amores com mar ao fundo.

Nessa festa, eu também lá estava.
E de lá, de onde me encontrava, via
tudo o que se pode ver num ambiente  incrivelmente sinistro,
encostada  ao parapeito, com o queixo apoiado no antebraço.

Era..., era mais para trás que estava uma bruxa velha,
velhíssima, com um grande nariz,
com uma verruga na ponta, um chapéu em bico
e a testa cravada de rugas fundas.

Espreitava, escondida, atrás de um arbusto,
mas era denunciada pelos olhos rasos e faiscantes
do gato de prata que trazia ao colo.

As mulheres não eram muitas,
e eram mulheres muito jovens que riam,
e cujos risos cristalinos  embatiam no cristal das taças,
que elas agarravam com os dedos longos,
e era aquele som que entrava pelas frestas da janela, mal calafetadas.

Só um aparte, não te esqueças dos meus dedos longos.

Lembras-te dos choupos alinhados, da sua sombra sombria,
da infância em que nem sequer me conheceste?
Então, se quiseres, terás a recordação dos meus dedos longos.


Com vista previlegiada para o jardim,
observava as raínhas de mãos piedosas e juntas,
os sequiosos de língua de fora,
os loucos com comportamentos inalteráveis, com a suas loucuras previsíveis.
E para mais que são sempre eles,  a animar  os  ambientes festivos,
e são, portanto, também eles, que dançam ao som da água.

Um vestido de seda, vermelho e comprido,
circulava por ali, rasando o chão.
Sem ninguém.  Mesmo quando lhe batia o vento lá dentro não estava nada.

Também um aranhiço, se sentou na beira da fonte, traçando as sua oito pernas
umas sobre as outras.
E enquanto tirava o baton carmim da bolsa para retocar a sua boca nojenta,
ainda cuspia restos de asas de mosca que guardava, depois,  entre as patas.

E fui eu, que, com as costas doridas da posição, com os picos da mão já dormente,
e talvez por isso,
me esqueci de lhe dar as flores, à entrada.







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