domingo, 19 de agosto de 2018

Pode ser um #postal_de_férias

Faz meia hora que fala, narrando divinamente a sua história.
Nem tanto pelas palavras, mas talvez pelos gestos elegantes que vão acompanhando o discurso.
As mãos vivas, as expressões do rosto selvagem, os olhos húmidos, acossados, como um veado que espreita por entre as folhas.
Observo-lhe os gestos entrosados uns nos outros, o discurso brilhante e inspirador, consigo ver o seu azul inexistente e verde,  a coincidir com o azul do mar, o azul  do nosso mar desigual.

Faz meia hora que fala.
Apoia os cotovelos no parapeito líquido, enquanto eu passo os olhos pelas variadíssimas linhas do horizonte incompreensível, e a vou imaginando  a beber de tudo o que existe para beber de  doce, nos rios que correm por fendas sublimes da mãe terra, muito embora, digam o que disserem,  bastante assustadoras,  e nos lagos de águas paradas e fundas.
E prossegue falando, mas eu sei, sou testemunha, que para falar tão bem, já  escreveu oceanos e já moveu montanhas, já lhes mergulhou no fundo, daí a beleza expontânea com que destraça a perna.

Aproveita as cores do outono, e a chuva gelada do inverno, tudo se aproveita, diz-me, com os  seus olhos mornos, como se baixasse o pescoço para beber, equilibrando-se  apenas nas patas dianteiras, e visse o seu rosto ondulado, no ondulado das águas meigas.
E continua, contando  e escrevendo, e eu vou passando os olhos, calmamente, pelas linhas, como se ela fosse um veado que fala, que conta, que escreve, ou uma rocha que aquece, que escalda sob o calor do verão, ou, simplesmente, mais uma pequena parvoíce das minhas.














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