quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Viver no Campo

No sopé de um pequeno monte sem importância relevante, existia uma quinta que, apesar de parecer um espaço em tudo idêntico a outros espaços daquela natureza, era, afinal, um pouco diferente.
Lá, os animais pareciam ter saído de uma qualquer ilustração infantil.
Havia um  porco  muito cor de rosa, que andava apoiado nas patas traseiras, tinha sempre um sorriso nos lábios, um pequeno chapéu de coco, e não chafurdava na lama.
Estava sempre muito luzidio, como se tomasse banho todos os dias com um gel específico para porcos da sua faixa etária.
Também o gato riscado, que por lá vivia, era pintado de umas riscas com um absurdo contraste entre o cinzento e o amarelo, e não atacava a capoeira para matar as galinhas.
Os animais eram, aliás, todos grandes amigos, e, simplesmente  não existiam aquelas rudes pessoas do campo, que algum dia, eventualmente, lhes poderiam fazer mal. dentro dos limites que estipulava a cerca de madeira, muito benfeitinha, em dois tons de castanho.
Naquele lugar, até os insetos era felizes, não havia pragas de vespas, nem de nada, o criador, fosse lá quem fosse, tinha optado  pela existência de apenas uma criatura com asas desta natureza.
Era a Gertrudes, que acompanhava em longos passeios um gafanhoto conhecido apenas por "Pô", apesar de o seu verdadeiro nome ser "#Postal_de_Férias, designado assim talvez um pouco por causa da dificuldade que alguns animais demonstram em falar, nomeadamente quando se trata do português, dada a complexidade da língua.
Só o papagaio Pacholas, muito seguro de si, o conseguia pronunciar. E muito bem, "postal de férias, postal de férias", repetia sem se cansar.
Um dia, estando em alegre convivência todos sentados na relva de tom artificial, cada um à sua maneira, o peso da vaca malhada e as suas pestanas sensuais, percebiam-se pelos traços a preto, que o desenhador produziu inclinando a caneta, deu-se o mais espantoso dos acontecimentos.
Tão bem que se estava no campo, debaixo de uma buganvília, quando começou a chover chuva verdadeira, imagine-se, primeiro em gotas dispersas, duas ou três acertaram nos cornos da cabra Lindinha, que logo se desfizeram, depois foi a vez do cão Simão ser atingido, ficou sem a bonita cauda peluda, até que caíu violentamente, misturando todas as cores.
E à medida que a água ensopava a maioria das folhas,  foi-se a vaca, foi-se o porco, o gafanhoto, e o outros, todos mortos, jazendo numa grande mancha lilás, como se nunca tivessem existido, mesmo que apenas enquanto personagens duma historiazinha impensável e, cá para mim, até um bocado esquisita.












Sem comentários:

Enviar um comentário