quinta-feira, 2 de agosto de 2018

#Postal_de_férias com Sereia


Tamanha simplicidade, e
aconteceu-me isto, imagine-se,
fui à praia precisamente
á hora tranquila da madrugada,
em que os barcos não
passam de meras sombras,
e não há pessoas nos edifícios,
ou eu não as vejo.


Talvez porque as ruas permanecem escuras,
porque o calor obriga à penumbra,
vou descendo, para
chegar lá e ouvir  as embarcações implodindo,
Pumm! Atracadas nas dunas
a assumirem contornos grotescos
aos meus olhos, ou, ainda,
se calhar estou demasiado atenta.


É sempre por aquela hora mágica,
ou virtual, não sei, dizem
que emerge da água
com o corpo nú até onde é possível,
os seios escondidos pelos fortes cabelos
que se movem, distraídamente, com a brisa
como se fossem luas amarelas,
desenhadas em pedaços de tinta.

Com o rabo de peixe submerso
no líquido negro e fundo.


Nem os reflexos da lua,  nem a distração
da sua voz inebriante e assassina
impedem o improvável.
É porque não estás atenta. Inédito,
 não é, mas raras vezes uma sereia
se pendura numa árvore,
e por lá fica toda tarde, com a sua cauda,
escamada e triste.


Mas pode acontecer. Quando
Saem do conforto da água funda,
só para, por momentos
verem o mundo ao contrário.


Por vezes ainda traz os arpões
espetados no corpo.
ou colares de moedas de tesouros
corais ondulantes
conchas e búzios preciosos
enrolados no pescoço.


Sacode-se o melhor que pode,
para se libertar,
utiliza as mãos emprestadas
para  soltar o que sabe,
mas isso provoca sangue,
e o sangue forma
uma mancha avermelhada
que alastra aleatoriamente
pela superfície do mar.


E a dor instala-se nas suas cantigas,
e com versos incompreensíveis
grita uma aflição qualquer
que desconheço.







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