domingo, 26 de agosto de 2018

Quase um #postal_de_férias

A velha questão do espaço
e a nova questão do tempo
renovável,
obrigavam ao repouso do corpo
enfraquecido,
Tantos pequenos delitos.
Ouvir  música música,
quando o silêncio atordoa.

Se tudo fosse demais
ia dar um passeio.

Naquele dia
desorganizou-se propositadamente,
vestiu o seu mais bonito casaco,
com grandes quadrados azuis
e amarelos,
a saia amarela do mesmo tom,
a condizer na perfeição.

Ao abrir a porta do quarto,
para se despedir
desnecessariamente
da poeira,
deparou com a boneca
jazendo no chão, desativada,
com as articulações rudimentares,
em muito mau estado.
Pressentiam-se as cabeças
dos parafusos invisíveis
unindo as partes,
Um dos seus cotovelos
formava um ângulo impossível
e desajustado
em relação ao conjunto
das pernas e dos braços.

Olha o lobo de pelo branco,
mais um enigma
que lhe vigiava os movimentos
do alto da prateleira.

Saíu.

Sobressaía das ervas secas
por causa do seu movimento
pendular.
A imagem não permitia ver
nem um pouco do tom plástico
da sua pele,
mas era uma mulher gorda,
que,
a cada passo tombava
para um dos lados,
perturbando o eco sistema.
Entre o seu corpo denso
e a leveza da paisagem
havia um enorme contraste.

E afastava-se.
Estava cada vez mais longe.

Os seus olhos desumanos
tinham a capacidade
de não fixar qualquer ponto.

Aquilo nem era cabelo,
mas sim uma peruca artificial,
como a dos palhaços,
de cor viva.

Uma hora depois
estava de volta,
e atirava, aliviada,
o casaco e as chaves
para cima da cadeira.

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