terça-feira, 8 de maio de 2018

Xairel


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A mim, o que me fazia confusão no sr. Almeida, é que não o via comer nada o dia inteiro.
Só bebia.
Aparecia, logo muito cedo, acompanhado do seu garrafão de vinho, e sorria-me, com um sorriso sem dentes, sempre que passava por ele.
Enquanto a minha avó conversava sobre a festa da aldeia que andavam a preparar para essa noite, nem  sei se é uma aldeia, pois não consta, sequer, do mapa, eu entretinha-me a ver o movimento circular das caudas dos bois para afastarem as moscas.
 Depois de três longos meses passados naquele paraíso terrestre, de aves canoras e cães pachorrentos, deitados ao sol, parecia-me aquele mexer contínuo, com os insetos a fugirem e a voltarem ao mesmo sítio, um verdadeiro filme de ação.
Á noite saíamos de casa, com o nosso fraco entusiasmo por festas da aldeia:
 "Não deves passar mais do que seis horas por dia a ler. Dizem, que não faz nada bem à cabeça."
Houve derminados anos em que lhe pedi para me deixar utilizar um pouco de terra para fazer as minhas próprias culturas.
Então, lá ia, todos os fins de tarde, verificar o crescimento das alfaces, mas claro, de um dia para o outro não se topa nada.
 Nem é forma de passar o tempo, esperar que as coisas cresçam à minha frente.
Havia papelinhos coloridos suspensos entre os telhados das casas e o telhado da capela, e a música saía roufenha das instalações sobre a mesa.
Xailes e #xaireís cobriam as costas curvadas das velhas.









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