terça-feira, 29 de maio de 2018

Salsa




Lembro-me muito bem.
Andava eu, faz muitos anos, a passear de mão dada com a minha avó por entre as barraquinhas da praça, enquanto fazíamos as nossas compras ao mesmo tempo que ela me explicava tudo o que observávamos em redor, devo referir, apenas como complemento, que naquela altura não havia tanta facilidade em operar cataratas  como há agora, mas dizia, ela ia-me ensinando tudo o que podia, dentro das suas limitações, claro, ainda hoje confundo, azeitonas com caganitas de ovelha, e eram, assim, uns primeiros domingos do mês maravilhosamente passados.
Lá dentro havia sempre uma grande algazarra. Toda a gente comprava, vendia ,  falavam uns com os outros,e os vendedores de ervas aromáticas apregoavam os seus produtos:

É a hortelã da ribeira,
é o coentro do juncal,
é o oregão da Lurdes,
é a #salsa do Amaral!

A minha avó, sempre sorridente, perguntava-me nesta altura: " O que é que eles dizem, Minha filha? Não percebi!"
E aquela pergunta, tão inocente e singela, enternecia-me, de tal forma, que várias vezes pedi àquelas senhoras e àqueles senhores, para lhe irem gritar aos ouvidos, só para a ver feliz.
Depois de bem abastecidas de carne, peixe, e legumes para uma semana inteira, voltávamos para casa encurtando caminho pelos pinhais, e eu ia saltitando à sua frente, carregando, alegremente, os sacos por entre as silvas.
Chegadas à tranquilidade do lar, a bondosa velhota dirigia-se para o meu casaco enroladinho e abandonado em cima de uma cadeira, fazia-lhe umas festas e chamava-lhe  Tareco.
Doces memórias.












,










Sem comentários:

Enviar um comentário