quarta-feira, 30 de maio de 2018

Pés de anjo

O pé do meu candeeiro
de mesa é um anjinho
com as asas pequenas
e o corpo gordo.
Como faria para voar,
pergunto-me,
se existisse realmente,
com sustento tão minúsculo
para suportar
todo o seu peso?
Se calhar, foi moldado
para ser
um anjo helicóptero.
Não lhe colocaram
umas asas maiores
propositadamente,
para não se confundir
com um anjo verdadeiro.
E o que importa isso
para as pessoas que não têm,
como eu tenho,
um anjinho a fazer de candeeiro?
Ou outro corpo celeste
idêntico
a um anjinho mal parido.
Tão bonito que é!
E ilumina, é o engraçado
que tem este candeeiro
angelical.
Uma bonita
figura infantil
com um abajour
na cabeça!
E que posso ligar
a qualquer hora!
Durante o dia,
também o acendo.
Minimiza
os reflexos
da transparência do sol,
quando ele se mostra,
e que entram pela janela,
e se não entrarem, o que
também acontece,
igualmente incomodam,
e é preciso agir,
embora não me apeteça.
Mas tudo
o que se possa fazer
não será  suficiente.
O anjinho não dá luz
que chegue.
É um anjinho falso
de sorriso iluminado
artificialmente,
com aquele grande chapéu
de fluorescência
duvidosa.
Olha...! Acabou de dar sinal.
A luz começou aos soluços
intermitentes,
triste que nem sei,
atenção, milagre!
Era tão evidente
do que se tratava!
Era só
substituir
a puta da lâmpada.








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