sexta-feira, 25 de maio de 2018

Oráculo

Um simples gesto denunciou-o. Ninguém punha o dedo no nariz enquanto conversava com os amigos sem ter uma razão muito forte.
Enquanto se espera ao volante de um automóvel num sinal vermelho, ou quando se vê televisão, no relaxe do lar, é normal. Talvez até se considere prática comum, mas quando acompanhadas as pessoas evitam fazê-lo, sobretudo por respeito ao outro.
Ainda para mais que não se tratou de um gesto furtivo, ao de leve, enquanto se gesticula por um motivo qualquer e se passa rapidamente o indicador, em todo o seu comprimento, pelos buracos das narinas. Ao contrário, parecia uma atitude premeditada, como quem vai tomar um comprimido a determinadas horas, tal como o farmacêutico lhe recomendou, e para além de que não foi um toque disfarçado, mas absolutamente assumido, quando enfiou todo o polegar direito pelo nariz acima.
Quem lhe era mais chegado não deixou de sentir uma certa preocupação, não pela gravidade do caso, mas pelo seu inusitado, e acabou por lhe perguntar o motivo de tão estranha atitude, mas a verdade é que existia uma explicação mais que razoável.
Tinha  um #oráculo a viver na epiglote. Só a curvatura daquele dedo, e colocado daquela forma, lhe permitia  chegar a ele, e tinha, segundo indicações médicas, que o fazer a horas certas.
Todos lamentaram a situação e se mostraram disponíveis.

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