segunda-feira, 28 de maio de 2018

Ruço

A palavra #ruço, ouvi-a muito quando era miúda, lá para cima para a beira alta. Referiam-se as pessoas aos que são louros, ou alourados.
Bem mais tarde, voltei a ouvir essa designação na boca de uma vizinha referindo-se à minha filha mais velha que é na verdade, um bocadino "ruça", e confesso que achei engraçado por ser uma palavra raramente, ou mesmo nunca, ouvida por estas bandas.
Essa senhora vivia no mesmo prédio que eu, um andar abaixo, com o marido e dois filhos pequenos, com idades idênticas às das minhas crianças, e andavam inclusivamente, todos no mesmo colégio.
Soube-se, a determinada altura, que o miúdo mais velho tinha morrido. Constava que tinha sido assassinado, uma história monstruosa que me afetou bastante, mas ninguém sabia pormenores da situação.
Um dia em que o guarda noturno me bateu à porta para receber o pagamento mensal, questionei-o sobre o assunto e ele respondeu-me: "Minha senhora, não se meta nisso."
Por isso, quando ouço esta palavra, associo-a, invariavelmente, a esta história macabra, e é também, por estas e por muitas outras,  que gosto tanto de inventar irrealidades, ou fantasiar o real, para construir à minha volta um mundozinho mais alegre e mais bonito.

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