sexta-feira, 5 de abril de 2019

Xará

#Xará, o meu grande deus está
sempre ao pé de mim.
Creio na sua bondade infinita,
na sua existência etérea
circulando dentro dos homens bons.

Assim de repente,
vem ter comigo sob várias formas,
umas preso no vento, outras na chuva,
ou nos barcos de pesca afundados
no horizonte,
com os seus movimentos  tão longe,
que levam um tempo infinito a descrever.

Nada palpável me toca, apenas gestos nenhuns.

É
o som inconfundível  do amolador.

Nunca o vejo,
Apenas tenho vontade  de o ouvir
por aqui.

(Mas ir-se-á embora.
Saltará desta para outra invenção,
num ápice,
para um conto infinitamente mais poderoso
do que este,
com as palavras certas, no seu lugar verdadeiro.
Irá!
Às vezes, também acontecem coisas brutais,
vai procurar outros poemas mais belos
do que os
meus, eu sei,
em busca da tranquilidade.
Seja feliz.
Insistirei sempre em
inventar
outro homem e outra mulher,
até serem tantos que se torne
impossível ignorá-los.)



(Mais uma carta de amor,
pronunciou baixíssimo,
enquanto encolhia
os ombros displicentemente)

Não faz qualquer sentido,
os personagens abandonam-me
à procura de outros lugares sem caos.


Os cenários são-me lançados
na cabeça por uma força  desconhecida,
Há uma conjunção de enzimas
trabalhando em simultâneo
que ativam
os hologramas que me confundem,
e que esqueço pela manhã.

Um dia, lá para do fundo dos sonhos,
muito longe daqui,
pularei as rochas desiguais dos penhascos,
os penedos das ruínas de um velho forte
que desaba
e quando desabar provocará um ruído enorme,
mas,
já todos terão fugido,
só eu permanecerei no silêncio das rochas
que tremerão a meus pés,
provocando-me pavor.

Naquele tempo,
era habitual  percorrer as aldeias
com os meus bonecos, para os fazer rir.
Procurava um terreno favorável
Primeiro montava o cenário,
e  depois desmontava-o,
e depois partia para outro lugar,
atravessava a mansidão
dos pinheiros na beira de estrada,
onde me demorava propositadamente.
Às vezes parava
para partir pinhões entre duas pedras,
e  comê-los, um a um.

E o meu bom Xará acompanhava-me
naquela vida de saltimbanco,
espalhando a minha alma
pelo caminho.







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