terça-feira, 16 de abril de 2019

E Se Fosse #Bibi_Andersson?

O consumo de água foi restringido e eu coloquei a hipótese de dizer adeus à plantas carnudas e vivas que tinha no quintal.
Consumiam, efetivamente, água demais, o verde intenso embriaga-se com a transparência do líquido  e com a sua  humidade, e se me livrasse delas deixava de ultrapassar o que naqueles tempos nos era imposto.
Mas essa medida drástica acabou por se revelar desnecessária.
Após muitas  horas de trabalho efetivo, consegui que aprendessem a beber menos e a sobrevirem igualmente esplendorosas.
Os plásticos estavam finalmente a ser reduzidos, havia fontes espalhadas pela cidade para as pessoas saciarem a sede sem terem de comprar garrafas imprestáveis, havia bocas que se inclinavam debaixo da água pura que caía, em fio,
No entanto, todavia, não era permitido roubá-la com outros fins, e os polícias palmilhavam os jardins e os passeios, aos pares, atentos ao que se passava.
(Entre as três e as quatro da manhã não havia ronda. Era quando eu aproveitava para lá ir e de lá retirar uns quantos litros proíbidos.)
O vizinho do lado nunca me foi simpático.
O seu pedaço de terra, idêntico ao meu, tinha sido empedrado e servia agora para algumas arrumações.
As ferramentas ficavam protegidas debaixo de uma pequena barraca de zinco que ele tinha montado junto a uma das paredes.
Os gatos aproveitavam para saltar para cima desse telhado, depois para o muro, onde se equilibravam na perfeição enquanto o percorriam até à outra ponta, e onde, finalmente, pulavam com elegância para os meus pés.
Primeiro perseguiam as abelhas e depois chegavam-se aos canteiros, e arrancavam ervas para comer.
De seguida subiam para o parapeito  da janela da cozinha, e esperavam, impacientes,  e com o olhar inteligente dos gatos, que eu, de lá de dentro,  lhes desse  pedaços de frango e de peixe.
Durante a tarde, deitavam-se em frente à porta, porque eram as horas do sol incidir sobre o tapete.











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