domingo, 28 de abril de 2019


Fica aqui o testemunho,
As palavras são-me roubadas.
Vejo-as noutros locais, apetrechadas
com os meus apetrechos,
só podem ser elas,
depois de terem tomado
uma droga que as fez esquecer.
Quero acreditar que sim,
que estão felizes e contentes
apenas porque já não se lembram
de como as fiz enrodilharem-se
umas nas outras, ganharem formas
e consistências diferentes,
de como foi agradável,
e abandonam-me para outros lugares
como barcos de pesca
partindo

Imagino-as nos aeroportos, de malas nas mãos,
porquanto seja indiferente
se vão ou se regressam,
Só o facto de estarem por ali, de bagagem no chão
e mãos nos bolsos à espera do avião,
já me fogem.

Por vezes estão na praia,
nos passeios de subúrbio,

ou saem pela boca de alguém,
que ressona encostado à janela,
do autocarro,
enquanto sonha uns segundos.

Nesse caso também as escrevo,
mas primeiro  guardo-as
e deixo-as secar
depois de devidamente
retiradas das profundezas do oceano
pela noite dentro.

Alguém terá que ter  a audácia suficiente
para enfrentar
as águas impenetráveis, mas não seremos nós..

De barriga encostada ao gradeamento.
diluíu num copo de água do mar,
um comprimido efervescente.










Sem comentários:

Enviar um comentário