terça-feira, 30 de abril de 2019

Um Pássaro



Para arrumar
um livro de poesia,
dirigiu-se às
prateleiras.

Acontece que
calculou mal a distância,
embateu com o cotovelo
contra uma saliência
inoportuna,
e o livro caíu no chão,
desamparado.

Abriu-se,
e um  poema
soltou-se da página
onde estava  impresso,
em #tinta preta,
tamanha foi a
descompressão, e tão
rápida, das folhas
que antes,
se encontravam
fortemente
apertadas
umas contra as outras.

O poema começou
a rodopiar,
atarantado, preso
no ambiente desconhecido
da sala.

Batia  as asas contra
as paredes
e contra o teto,
em voos pequenos
e assustadoramente
cómicos,
apesar das suas
sumptuosas
penas amarelas.

O homem
abriu a janela,
inclinou-se sobre ela
e soprou a lombada
gasta e verde
para sacudir
para a rua
as sobras das letras
desconjuntadas e
do pó.

O pássaro em  verso
apercebeu-se
do céu azul
orientou-se naquela
direção
e desapareceu
pelo espaço livre.

O homem acabou por
guardar o livro
com uma página em
branco a mais.

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