quinta-feira, 14 de junho de 2018

O Nome

Ninguém conhecia aquela figura magra  que aparecia de vez em quando nos sonhos de toda a gente.
Vinha para materializar duas possibilidades, ou mais, e o que antes era só um tranquilíssimo caminho de terra batida, bifurcava como uma língua de serpente.
No do lado esquerdo via-se ao longe uma fonte, e no outro uma capela arruinada, um pedaço de mar, dois terços de um telhado de colmo, mesmo nos países em que não se utiliza colmo para construir os telhados.
Havia que fazer escolhas.
Era o teu nome de inventor que eu lhe colocava, cirurgicamente, e, com a ajuda de uma pinça esterilizada, com todo o cuidado para não bater com as últimas letras na sujidade dos rebordos da moldura onde estava presa a paisagem gigantesca, colocava-o onde me parecia melhor.
Foram as mãos humanas e os seus devaneios,  que a criaram, assim, imensa.
Alguns deles, desses devaneios, loucuras inofensivas, naturalmente estarão mais bem guardados aqui do que noutro sítio qualquer.
A criatura mexia-se lentamente, tinha cara de mãe citadina, pelo menos carregava uma maleta com os documentos, os bilhetes de autocarro, o dinheiro, e outras tralhas sofridas de preocupações e felicidade, como são os pertences da grande maioria das mães que vivem nas cidades, ou, porque não, nos cenários bucólicos com vaquinhas a dar leite e outros géneros alimentares, e vão andando com pó nos sapatos, ou excrementos de pombo.
Com a nossa falta de #juízo, era a origem o que procurávamos nos mundos inentiligíveis,
"Eu não me rendo", é uma belíssima ideia mas muito difícil de escrever, e o difícil desafia-me, leva-me a fazer escolhas, leva-me os olhos até lá, e é por isso que vou ao cinema, ou leio um livro.
Só para ver, ou só para ler.
Infantis. A sonegar a água das torneiras, sim, porque há uma água que é "água de torneira", em detrimento do mar de oceanos indesvendáveis que amigos de palavras como eu, ou daquilo que nos passa pela cabeça sem querer, e que depois escrevemos.  Fica, então, estupida e irresponsavelmente registado, e gostamos.
Se gostamos.
E vou deixar as emendas para mais tarde porque não me apetece.
Pelo menos agora.



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