segunda-feira, 4 de junho de 2018

Só um bocadinho #Yardbird

Num livro de poemas que tinha lá por casa,
com a lombada gasta da forte luminosidade,
nesse livro velho,
com as palavras quase mortas,
sufocadas no seu interior,
os versos por declamar
reclamavam, lá de dentro
não ser versos
assim enterrados para sempre.
Abri-o, aleatoriamente.
Eram duas páginas vazias,
pelo menos de sentido,
embora as palavras estivessem
arrumadinhas no seu sítio habitual,
sobre o papel quase branco.
A injustiça, evidente, em relação aos outros,
aos que são entregues a vozes sensuais,
fortes ou sonantes,
que os libertam e os projetam
em todas as direções,
dando-lhes um corpo volátil,
e fazendo-os embater
em paredes côncavas,
e em tetos ovais,
que são as salas vivas,
de onde retornam, gloriosos,
num vaivem que só termina
numa plateia
de milhares de ouvidos refratores,
essa injustiça, dizia, fragilizava-os,
e, com tantos poemas eternos,
logo eles, acabariam,
inevitavelmente, por morrer.




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