terça-feira, 12 de junho de 2018

Gazeta





O grande horror da vida
da condessa Vanessa,
e o seu maior temor,
era aquela tesoura que a perseguia,
O seu hábito de guardar a poesia
entre as belas trombas
e o fortíssimo cabelo,
não ajudava
causava-lhe, até, grandes dissabores.
E aquelas gigantescas lâminas afiadas
eram terríveis!
Se ela se distraísse,
para descansar um pouco
sairíam de trás da porta,
para lhe cortar o que guardava,
religiosamente junto,
debaixo do penteado,
e depois, claro,
restavam palavras soltas:
"#gazeta, lambreta, trotinete",
ou ficavam as frases
todas misturadas,
recoladas em textos diferentes:
"Lírios tinham que caber
nos primeiros versos",
seguido de,
"Vozes que nem eram dela
passavam de uns livros para os outros",
só para dar alguns exemplos
do perigo do caos instalado
em fanicos de papel.

Para se acalmar, procurava a desinspiração.
"Desinspira, desexpira",
desdizia ela aos seus botões,
ou reenche o peito de ar, condessa Vanessa,
como queiras,
e se te vires ameaçada,
canta uma canção, ou faz o que te apeteça,
para que a distrias.
e, imediatamente a seguir,
lanças-lhe a tua poderosa tinta de polvo.
Fazes pontaria, e já sabes,
ainda que ela
te descentralize a peruca,
tu acertas-lhe  no eixo do corpo.
Sem medos.









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