quarta-feira, 13 de junho de 2018

Heterónimos



Andava Pessoa pensando,
e passeando..., pois...,
em passinhos distraídos
pelas calçadas desertas de Lisboa,
bons tempos..., calçadas desertas...,
quando, numa inquietação espiritual
que lhe era muito familiar
se sentiu ameaçado.
O coração disparou-lhe disparatadamente,
os #heterónimos, aqueles
sabichões inventados, deram conta de  tudo
como se fosse com eles,
e nos seus próprios corpos,
sentiram as angústias, e os pavores,
e "pernas para que vos quero!",
fugiram.
E ele, assim sózinho e desprotegido,
num  acontecimento
verdadeiramente dramático
foi mesmo agarrado numa esquina,
por dois homens
que lhe tiraram do bolso
os seus preciosos haveres.
Um monte (ou rolo)
de guardanapos  preenchidos
com palavras por corrigir,
por emendar. Sem rasuras.
(Ainda).
Então, numa aflição terrível,
suando, encostado a uma parede,
encheu-se de coragem e esperança
e perguntou-lhes, timidamente:
"Por um mero acaso, algum de vós
que, neste momento, me assaltam,
saberá ler ou  escrever?"








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