quarta-feira, 27 de junho de 2018

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Era uma vez, há muitos milhares de anos, uma família de homens e mulheres primitivos.
Num tempo em que os povos ainda eram nómadas, este clã resolveu instalar-se numa caverna, onde já tinha pernoitado uma ou outra ocasião, quando andava em trânsito, e da qual a maioria dos membros tinha gostado muito.
A mulher observara que ali cresciam belas trepadeiras selvagens, evidentemente, naquela época tudo era selvagem, incluindo eles, num determinado dia em que, estando exausta da caminhada, tinha pedido ao marido: "Leva-me pelos cabelos se faz favor". e indo assim descansada, escorregando as costas pelas ervas e por um ou outro calauzinho rolado, que até lhe sabia bem, o belíssimo casaco de pelo de bisonte  ajudava ao deslizar pelo chão, podia apreciar o que a rodeava, para, mais tarde, com um calhauzinho afiado, desenhar uns enfeites nas rochas que faziam de parede interior daquilo que seria a sua nova habitação, pese o facto de não ter grande jeito para o desenho, possibilidade que nenhum arqueólogo da atualidade ousa colocar.
Dias depois, tinham já delimitado o seu espaço com uma #vedação feita com ossos de canídeo das estepes, e estando as crianças distraídas  a jogar ao berlinde com olhos de vários animais, que a mãe, por graça, lhes entregava enquanto os estripava, um mamute enfurecido correu para eles e espezinhou tudo, arrancando, até, os espinheiros que tinha plantado para, na primavera, darem flor.
Felizmente conseguiram fugir quase todos. Só a matriarca da família se deixou ficar para trás, porque já não se desenvencilhar sózinha, com a sua muleta de pescoço de girafa, demasiado maleável, que lhe tinham oferecido nos anos, e também não podia ir de arrastão por causa das doenças dos ossos e das articulações que lhe ofereceram as muitas luas que a que teve ocasião de assistir.
O homem ainda olhou para trás na tentativa de a salvar, era seu filho, mas já só a viu esborrachada com o estômago a esguichar restos de "coelho à caçador" que tinha comido na última ceia.
Horas mais tarde depois de uma longa caminhada, as crianças deram por falta da avó, pelo que questionaram os pais, mas os deuses produziram uma trovoada violentíssima naquele momento e um raio caiu-lhes sobre a cabeça, deixando os seus corpos calcinados debaixo do embondeiro mais bonito que alguma vez existiu.
Ficou para a história esta pergunta por responder.







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