sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

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Sentado numa posição contrária a uma das muitas possíveis e confortáveis à natureza humana, seguia viagem numa jangada, falando com os peixes.
O seu percurso tornava-se diferente por causa daquela maldita opção de viver sobre a água.
observando a imensidão sem ninguém.
Os ombros iam caindo com o peso dos anos e da humidade salgada que não havia em terra firme, raramente avistava golfinhos, cachalotes ou baleias, os nós dos seus dedos eram tão rudes, mais rudes do que algum dia se verá por esse mundo fora.
A travessia louca a que se propunha, não era o maior dos seus sonhos, mas o chamamento tinha sido poderoso, por todos os céus sem fronteiras,havia um grito fortíssimo, convidando-o àquela jornada estúpida e difícil da solidão.
Ia escrevendo, pois, a tarefa maravilhosa que todos querem, todos sao capazes sem se debruçarem até colapsarem alguns dos nervos do corpo, perderem as horas que lhes são devidas, em alucinações.
Tinha a pele seca e queimada do sol, a barba rala por fazer, e pensava na sobrevivência acima de qualquer valor,  horas a fio, enquanto projetava poemas nos raios de sol intenso, que transportavam novidades das paisagens verdes, e quando lhas entregavam, o mar ficava dessa cor de jardim.
Do que era antes não tinha memória.
A bem dizer as memórias esgotavam-se, dissolviam-se em esquecimento, eram só palavras ditas por outras pessoas noutros lugares longínquos.
Na verdade, ouviu-lhes a voz líquida a atravessar o oceano ondulado, vezes sem conta, palavras indizíveis, e sobretudo muito simples, que se alojavam na sua cabeça, como algas ondulando, ou como  prova máxima daquela obrigatoriedade de ser  violento como um deus  em fúria, como a força da maior das tempestades, ou sereno como quem apenas observa para depois relatar calmamente aos seus pares.
O problema irresolúvel nem era a quantidade de água que o circundava, o curto espaço da barcaça, que nem permitia que se andasse para trás e para a frente, de mãos nas costas pensando no que abandonara ou no que via, ou no que viria a acontecer.
O problema era quando os peixes dormiam nas noites sem luar.


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