terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Uma Impossibilidade Para #Kitchenette


A pérola cai no chão.
Lasca-se no seu liso  arredondado, imperfeito.
Todo o colar acaba por se desmanchar.
Fica o fio nu, partido pelo meio,
ou por uma das pontas, frágeis para tanto peso.

Pérola rola para debaixo do armário,
prende-se na ranhura que existe entre os tacos de madeira,
e ali fica, fixa, durante muitos anos, até uma criança
colocar a cara  de lado com a bochacha colada ao soalho,
lustroso e brilhante,
que a Dolores tinha encerado nem há oito dias.

Pérola Branca, vivificada pelas mãos rechochudas,
pelos dedos infantis.
Com a ajuda de um palito encontrou muitas,
e juntou-as num canto.
Já fazia um pequeno monte,
o colar que tinha deixado de existir.

As pérolas abandonaram os pescoços de cisne
em que se passeavam pelos eventos,
abandonaram a gaveta onde eram guardadas,

como se vivessem ainda dentro da matéria morta
das conchas,











Sem comentários:

Enviar um comentário