terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Como uma #Kitchenete no Jardim

Quando lhe vieram com a conversa, não se lembrava de nada,
e mesmo agora,depois de se dedicar a pensar no assunto,
não encontrava mais do que uma memória vaga,
uma lembrança insuficiente para lhe ativar os sentidos,
como se o seu corpo fosse já uma estátua de bronze no meio de um jardim de altas sebes,
como num labirinto, com a raínha má que nos persegue com a tropa assassina comandada pelos ases de copas.
O filho perguntou-lhe se queria alguma coisa.
Disse que não e agarrou a cabeça com as duas mãos para que não se soltasse
quando os jovens se empoleirassem nele, durante a noite, e se agarrassem ao seu pescoço.
Moínhos gritavam de dor, sangravam das feridas provocadas pelas lanças,
e enquanto Rocinante pastava,
o filho tocou-lhe no ombro, ao de leve,
ele sentiu a realidade do toque e inclinou  o tronco  ligeiramente,  assentindo.
Ninguém diria que era feito daquele material inerte e frio.
Os doze cisnes que voavam sobre o telhado, constantemente,
eram grandes lençoís brancos tapando a claridade, numa representação do medo,
e como tal, tomava medicamentos para os afastar.
Estavam suspensos do espanta espíritos pendurado na janela, para se servir à vontade.
Os seus invólucros metálicos, provocavam brilhos irrequietos nas paredes.
Mas isso foi antes de ficar ali, a criar musgo por causa da humidade.
Viu o rapaz fazer o caminho de retorno,
e gritou qualquer coisa impercetível qua lhe saíu da boca entreaberta,
esculpida majestosamente.
Ele não ouviu, claro.
 Todos lhe gabavam a pele esticada, o olhar concentrado, fixo na porta da entrada.
Quem não gostava dele, dizia que se escondia atrás de um grande tronco
e da chuva miúda que caía em volta da ilha de Avalon,
e que o viam, também, na barca, atravessando as águas e o nevoeiro,
logo pela manhã, como as guerreiras submersas na neblina.
Como mal se lembrava, semicerrava os olhos,
dentro do possível, ou aceitava o gesto de lhos fecharem
para que pudesse descansar um pouco daquela posição rígida.
em que o seu criador o colocou para sempre, numa bizarra homenagem.








Sem comentários:

Enviar um comentário