terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Julieta

Julieta saíu de casa pelas quatro horas da tarde. Ainda era difícil sair para a rua por causa do calor. Estava um dia excecionalmente quente, mesmo para aquela cidade habituada ao sol intenso e brilhante durante as épocas de verão, mas naquele ano as temperaturas iam muito para álem do habitual.
Quando chegou ao jardim por onde passeava todos os dias, deu umas voltas por entre as árvores. Depois, cansada, sentou-se no seu  banco preferido onde estavam escritas, em ligeiros sulcos na madeira, toda a espécie de juras de amor. Era onde gostava mais de esperar. Debaixo daquela tília cheirosa e naquele banco com a superfície da tinta a estalar nalguns pontos mais sensíveis.
Ficava virada para o caminho mais largo e as pessoas iam passando à sua frente, de vez em quando, todo o tipo de gente, era engraçado, alguns repetiam-se dias seguidos, outros vários anos, e outros ainda via-os uma única vez e depois nunca mais apareciam, naturalmente, atravessar o jardim fora para eles um gesto ocasional, ou porque se perderam, ou porque tiveram que ir para aqueles lados tratar de um assunto com uma especificidade qualquer..
Gostava de os ver passar, os miúdos de bola debaixo do braço, os velhotes e as velhotas amparando-se mutuamente, os apressados que passavam por ali porque era um bom atalho entre as duas avenidas, é sempre mais perto se atravessarmos os jardins, ou mesmo os residentes, digamos assim, os que dormiam por ali nas noites de verão agarrados ao saco de plástico onde guardavam os seus básicos pertences.
Olhou de lado para o relógio da torre e viu que as horas passavam lentamente, que o sol rolava devagar e a sombra da árvore se movia  impercetivelmente no chão.
A tarde ia avançando e o ar refrescava naturalmente, e Julieta, mais confortável, já o seu gorro de lã, que nunca tirava por ser tão bonito com a flor encarnada de lado, se tornou mais suportável e ela fechou os  olhos, caindo num sono leve.
E foi nesse momento que #Xerxes a chamou de muito longe:
"Julieta tu não existes. És fruto da invenção, és uma nesga de mar que não se alcança, sequer,  de onde estás, és produto da imaginação de alguém, não és real!"


























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