terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A Festa

Num certo dia de inverno Alma saíu de casa pela porta das traseiras. Disse adeus ao gato enroscado a apanhar sol na janela, e ao cão que olhava para ela com ar interrogador, como fazem os cães com os seus donos, "onde vais" parecem querer perguntar. "posso ir contigo?".
"Ficas aqui, tomas conta da casa enquanto eu não volto." E ele, obediente como era, esperando autorização para sair dali, de onde estava, no meio da terra pisando as hastes dos  lírios que haveriam de dar flor na primavera.
Clarabela era muito amiga de Gregória por isso tinham combinado ir juntas.
Armindo e Josué viviam ambos na mesma rua, o primeiro tinha dois filhos pequenos, e o outro era solteiro e bom rapaz, e desde há dois anos que vivia em casa do tio, uma grande casa ao cimo da rua apenas habitada pelo velhote e pela  Custódia que tomava conta de tudo . De princípio a mulher ainda lá dormia, mas depois juntou os trapinhos com o Alfredo e alugaram um pequeno apartamento na periferia da cidade, ficando o homem perdido em tanto espaço a mais.
 Foi aí que convidou o sobrinho, e Josué aceitou e agora tinha imensos amigos nas redondezas, como era o caso de Armindo. Foi bom para os dois.
Todas as semanas se encontravam em casa de alguém em grandes festas.
Esta, fora a vez de Ermengarda emprestar a sua.
Foram convidados também os dois primos, o Barnabé e o Felício, grandes companheiros da farra.
Tinha ligado a Josefa e Aurélio para virem mais cedo com o propósito de ajudarem a preparar tudo.
Armindo levou a mulher e um bolo de chocolate,
Quando chegaram, já a música preenchia o ambiente entrando suavemente pelos recantos da sala.
Já  todos tinham na mão um copo de vidro onde as bebidas brilhavam com as suas cores visíveis na transparência.  Mas adiante...
Clementina não se dava com Aurora, no entanto, fez um esforço educado para não não lhe bater e até acabaram por dançar  juntas.
Os pés rodavam-lhes no azulejo azulado, Albertino e Constança, por exemplo, encantavam com os seus corpos unidos a rodopiar numa sintonia tão grande.
O marido de Antoniana não quis comparecer. e então Antoniana convidou Celestino o seu antigo amante vermelho, de um vermelho tão forte que era quase roxo.
Dalila bebeu demais. As paredes moviam-se de tal forma que ficou  nauseada com se estivesse num carrocel que, por motivos desconhecidos não parasse o seu movimento circular nunca mais.
Rebeca trouxe  Dulcineia, que gostava de sair com a irmã mais velha por motivos óbvios.
Asdrubal, Anastácio, e Bárbara hesitaram mas acabaram por também ir.
Levaram rolos de serpentinas e fatos onde brilhavam milhares de lantejoulas, mesmo às escuras.
Quando tudo acabou, Alma voltou para casa.
O cão mantinha-se no mesmo sítio, mas o gato já lá não estava.










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