domingo, 13 de janeiro de 2019

Conversa Entre as Margens

Foi um dia qualquer,luminoso,
pleno de vírgulas,
que são comos os degraus
onde nos sentamos
a ver as colinas e o rio azul.
Viajámos pela ponte vermelha,
e verificámos que  o sol ia todo para ali,
para o tráfego incandescente e brilhoso,
sobre a água que caminha lentamente
até ao oceano dos peixes multicolores.

E como gostamos de beleza,
íamos absortos, concentrados  na obrigatoriedade
de manter o automóvel entre duas linhas brancas
que viajavam connosco,
e nos davam o rumo certo, a orientação,
o vai vem esplendoroso das árvores paradisíacas,
sempre presentes nas nossas cabeças
com os troncos nús, à espreita.

Ou melhor dizendo, à nossa espera.

Prosseguimos  conversando, mesmo depois
de várias referências aos mundos
desencantados e líquidos,
O café quente em primeiríssimo lugar,
amargo até onde se aguenta o amargor,
até ao ponto ideal,
o ponto zero em que a turvacidade castanha
é confrontada com a superfície.

O castelo, imponentemente ridículo e velho,
no natal, é iluminado para sobressair na noite pura
desta cidade.
Está frio até para as folhas que perduram
nos galhos adormecidos
não duvidamos que cairão, quando se instalar o vento,
quando ele, esse esquecido dos últimos dias,
descobrir as pequenas fugas entre os  parágrafos,
e se puser a circular pelas frestas,

Ou num sinal de trânsito,
ou debaixo dos plátanos carecas
e/ou,  ao lado de um autocarro,
com os pardais, debicando as migalhas que caíram,
inadvertidamente, do que alguém estava a comer
numa das margens.
Ou do que sobra do murmúrio da brisa,
que soprará  sobre a água, brevemente.

Falámos de assuntos que se prendem
com a observação das coisas.
Conversámos, também,
sobre os troços de alcatrão danificados,
e, de uma forma muito geral,
sobre a incompetência dos #orgãos competentes,
e sobre o arranjo do ar condicionado.









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