terça-feira, 8 de janeiro de 2019

#Jeira

Tive, noutra época,, uma junta de bois, um casal, devo dizer, e com eles ganhava o meu sustento.
Dávamo-nos muito bem,  os tempos eram de fartura e chegávamos a ter dez jeiras para lavrar num só dia.
Quando eram muitos hectares de terreno que tínhamos que trabalhar, eu fazia-lhes cócegas nos sovacos para eles andarem mais depressa, e então era vê-los, a uma velocidade, enorme, percorrer os ditos para trás e para a frente com os cornos orgulhosamente levantados.
O Jacinto, mais amigo da palhaçada, esperava sempre pela minha companhia para fazer as suas bostas aos meus pés, mas eu não me importava com isso, até achava graça à sua traquinice, e ele ria, e eu ria, e, apesar da intensidade da jorna, a boa disposição   mantinha-se  entre nós.
A Verónica era uma lady.
Gostava de enfeitar os grandes cornos com laços cor de rosa,
A minha Amália, que é a senhora da casa deles desde muito jovem,  nesses tempos roubava  fitas de cetim à filha da patroa que era quase amiga, quase filha, quase mãe, quase tudo ao mesmo tempo num nunca mais acabar de conecções merecidíssimas pela dedicação impar que lhes devotava, roubava-as, como dizia, para embelezar a vaca.
Constança, a menina da casa, onde a minha Amália era a senhora da Senhora, levava valentes palmadas por perder a toda a hora as fitas do cabelo e chorava que nem uma desalmada, gritando, entre palavrões, o nome do reis de portugal, da terceira dinastia.
O Jacinto irritava-se com a parceira por imitar um gato quando a dona ao fim da missa de domingo, onde iam todos, uns para assistir à cerimónia e outros para pastarem do lado de fora do edífício onde havia umas ervas suculentas e frescas, lhe fazia festas no lombo e lhe dava palha, e eu irritava-me com a Amália, às vezes por nada de especial.















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