sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Um Jasmim no Nevoeiro

O seu discurso vibrante caíu, desamparado,
sobre a cabeça das pessoas que o atravessavam,
O tempo deixou de ter importância
como se a tarde e o nevoiro fossem um só,
esperando,
junto à janela velha  os rebentos das flores,
abraçados um ao outro.

Havia muitas palavras,
demasiadas para caberem naquele tubo de pvc.
Então as caleiras rebentaram de cheias.
Contavam,
que as juntas cederam todas ao mesmo tempo
e explodiram,
e na explosão   espalharam luz
que provinha de cada letra e de cada tonalidade,
e as paredes vibraram numa animação
inventada.

As trepadeiras percorreram as grades
e enrodilharam-se nelas
tantas  vezes quantas os passos que
já tinha dado naquele passeio.

Tudo estava cinzento, os campos verdes,
os telhados as marés azuis,
o grande mar sem brilho, que avançava
transportando as palavras que ficavam
nas falhas
das rochas nas falésias, para sempre,
uma sobre as outras, até solidificarem.

Como se fosse pecado capital
escolher as mais bonitas de todas.
aquelas que se enquadravam melhor,
sabiam como dançar tal melodia.

Os seus corpos moviam-se lentamente
tão lentamente que davam tempo às folhas
de crescerem em paz.
É belo e assustador tê-lo tão próximo,
ao oceano com os seus braços de mãe protetora.

As palavras voltam a enrodilhar-se na sebe.
Daquilo que eram folhas pequenas
brotam agora cachos de cheiro de jasmim.
enquanto a serra chora.
e sempre que chora alimenta
as sombras verdes de musgo nos muros,
e nas #varandas
com as suas lágrimas.

A questão prende-se com o resto da viagem,
com ou sem o guarda chuva cor de laranja
é que iria seguir o percurso das pedras da calçada?
Tinha  lá culpa de que os passeios fossem assim,
por onde escorria a água em caudais de beira de estrada,
e o sonho sempre acordado?

Com as palavras, com as palavras que o perseguiam,
como se nelas houvesse umas sobras de loucura doentia.
como se já não existissem marés sincopadas
na cabeça erguida de ninguém,
como se fosse um bater de coração, que não é,
enquanto aquele aroma se sobrepõe a tudo
o que houver e que perdure sobre as águas,
ou sobre os lagos que a água forma
depois de abandonada entre a imponência
das falésias,

O muro está irreconhecível
De um dia para o outro a maresia
rebentou a espuma nos botões brancos da trepadeira.
E então por momentos inesquecíveis
esqueceu-se do mar que visitava nos dias de sol,
encostado ao passadiço,
a ver a formação das ondas,
que se enovelavam na chuva.
















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