quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Antes de Mais. O Título

Ia muito bem, no seu ritmo habitual, quando sentiu uma enorme vontade de andar um pouco mais depressa, como se o estivessem a seguir.
Sentindo nitidamente outra presença na rua, onde aparentemente não havia mais ninguém, resolveu correr.
Em primeiro lugar acelerou o passo, e depois, receoso, começou numa correria por entre os prédios, pelos passeios inclinados, e pela escadas por entre as casas velhas daquele lado do rio.
Parou duas ou três vezes, afogueado, olhando para todos os lados, encostando-se às esquinas, e aproveitando para recuperar o fôlego, ou escondendo-se atrás dos carros.
Apanhou o maior susto de toda a sua vida quando um homem, vestido de diabo encarnado lhe surgiu à frente.
Vinha duma festa de carnaval, tinha bebido um pouco a mais, era notório, e perdera-se pelas vielas da cidade.
A cauda já lhe tinha caído há muito, por isso era um diabo sem cauda, e com os chifres assimétricos por causa de uma batida na porta, à saída do metro.
Depois começara a subir e tinha chegado até ali, onde o tinha visto, e seguira-o por ter receio de o abordar.
Enquanto ouvia a explicação do diabo encarnado,os seus olhos pareciam faíscar.
Não queria ser obrigado a tirar as mãos dos bolsos do casaco, mas, num gesto inadvertido, e por necessidade de puxar a gola para que não se lhe visse o corpo incandescente que o traísse, aos olhos do diabo gorducho e sem rabo, e bêbado, do bolso do casaco saíram, então, num gesto inadvertido, duas garras ossudas que lhe subiram ao cabelo para ajeitar a popa.





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