segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Muro

Para além das redes sociais, também os observadores das redes sociais andavam, evidentemente, ocupadíssimos.
Se uns queriam que fosse construído, outros odiavam a ideia, a ponto de desejarem que o #muro um dia caísse e matasse toda a gente que por lá estivesse perto.
Queriam construí-lo em toda a fronteira que nos separa dos nossos irmãos.
Os que argumentavam a favor, diziam que era apenas delimitar o espaço, como se murássemos a nossa quintazinha para a tornar mais acolhedora.
Tinha, também, a vantagem de, nem as vacas nem os porcos passarem para o lado de lá. Não era a primeira vez que os nossos vizinhos se queixavam de encontrar estes animais lusos espalhados pelos seus campos, que não falavam uma palavra de castelhano. Ou galego. Ou basco, ou outra.
Os que argumentavam contra, diziam, é claro, tratar-se de uma profanação à liberdade e que era inadmissível.
E por falar em quintas, e em vozes que não chegam ao céu, o projeto foi mantido inalterável e deram início à sua construção, numa bela tarde de sol.
Mas  as pessoas quiseram ter parte ativa neste acontecimento, tão do interesse de todos, e juntaram-se no local, os a favor e os contra, os primeiros ajudando a edificá-lo, e os segundos iam destruíndo o que já estava feito.
Às dezanove horas fechavam os trabalhos, para uns e para outros, porque era hora de fazer o jantar e depois comê-lo, e depois dormir.
Felizmente que as grandes enxurradas de Novembro de dois mil e vinte varreram aquela área, e o assunto morreu por ali.








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